Bianca Santana é uma das principais pensadoras do racismo brasileiro na atualidade. Dona de uma inteligência acurada, ela notabilizou-se por falar desta chaga social com doses calibradas de doçura, análise política e raiva.
Olhar para algumas passagens da vida de Bianca torna espetacular o fato de ela ser formada em jornalismo, mestre em educação, doutora em ciência de informação, escritora de sucesso e comentarista política, do Jornal da Cultura – aos 39 anos. Bianca cresceu em um conjunto habitacional da periferia de São Paulo. Teve mãe e avó empregadas domésticas. Seu pai foi bicheiro e morreu de uma maneira que fala muito sobre a vida de jovens negros e pardos no país.
Seu primeiro livro, “Quando me descobri negra”, vendeu desde 2015, quando foi lançado pelo Sesi-SP, mais de 100 mil exemplares físicos, um absurdo em se tratando do mercado brasileiro de livros. Por isso, ele acaba de ganhar uma nova edição; agora, pela editora Fósforo.
Ecoa – Esse livro tem doses marcantes de doçura e raiva. Você até hoje é uma autora cuja escrita é fundada nesses dois sentimentos?
Bianca Santana – Eu acho que eu sou assim. Ele não chama “Quando me descobri negra” à toa. Tomei consciência racial tardiamente, só com 20 anos de idade. E só fui elaborar bem isso depois dos 30. O livro faz especial sentido para quem está num processo de perceber o racismo. De tomar consciência de que é uma pessoa negra ou tomar consciência de que é uma pessoa branca. Muitas pessoas brancas me dizem que ao lerem o capítulo em que falo de uma mulher negra num café a quem a toda hora perguntam se ela trabalha lá, percebem que elas mesmas já fizeram isso. Eu não sou mais essa pessoa que está tomando consciência, sou ativista de movimento negro. A doçura e a raiva continuam comigo, mas hoje com mais consciência no uso. Da raiva, principalmente.