Caso das 10 Mil conta história de operação policial em clínica clandestina que atingiu milhares de mulheres em Campo Grande (MS)
A Folha estreia nesta quarta-feira (30) um novo podcast, Caso das 10 Mil, série narrativa que investiga a derrocada de uma clínica especializada em abortos e como ela acirrou a disputa política sobre o tema no país.
A Clínica de Planejamento Familiar funcionou durante 20 anos no centro de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. O lugar, comandado pela médica anestesista Neide Mota Machado, oferecia principalmente um serviço: abortos clandestinos.
De 1989 a 2007, passaram pela porta da clínica milhares de mulheres em busca de uma interrupção da gravidez. O procedimento é comum no Brasil: a Pesquisa Nacional de Aborto de 2021 mostrou que uma em cada sete mulheres com até 40 anos abortou ao menos uma gestação. O levantamento coordenado pela antropóloga Débora Diniz ouviu 2.000 mulheres em 125 municípios.
Essas mulheres, em sua maioria, acessam a interrupção da gravidez no mercado clandestino. No Brasil, o aborto só é legal em casos de estupro, risco de vida para a gestante ou anencefalia do feto.
Uma espécie de acordo silencioso entre a médica Neide Mota Machado e a sociedade de Campo Grande permitiu que o funcionamento da clínica se mantivesse por duas décadas. Até que uma reportagem da TV Globo denunciou os atendimentos e isso desencadeou uma operação policial.
Na ação da polícia, os registros médicos de 10 mil pacientes foram apreendidos. Os casos foram analisados, investigados e levaram mais de mil mulheres à Justiça. As funcionárias da clínica também foram processadas —e levadas ao Tribunal do Júri.