Probabilidade maior faz com que pretas e pardas estejam mais expostas aos riscos decorrentes da criminalização do procedimento
Um recorte inédito da Pesquisa Nacional de Aborto, que foi realizada no Brasil nos anos de 2016, 2019 e 2021, mostra que a interrupção da gravidez é mais comum entre mulheres negras do que entre as que se declaram brancas.
Os dados revelam que a probabilidade de uma mulher negra fazer um aborto, em qualquer idade, é 46% maior do que uma branca. Isso significa que a cada dez interrupções realizadas por mulheres brancas, outras 15 terão sido feitas por aquelas que se declaram pretas e pardas.
O estudo ainda estima que, ao chegar aos 40 anos de idade, 1 em cada 5 mulheres negras (21,22%) terá feito ao menos um aborto, ante 1 em cada 7 entre mulheres brancas (15,35%). Ou seja, a probabilidade de que uma mulher negra dessa faixa etária já tenha abortado é 38% maior do que uma mulher branca.
Intitulado “Aborto e Raça no Brasil, 2016 a 2021”, o artigo reforça a tese de que o procedimento é comum entre as brasileiras, apesar de a legislação só prever a interrupção legal em casos de gravidez após estupro, de feto anencéfalo e quando há risco de morte materna.
Por outro lado, embora seja uma questão que afete mulheres de diversas classes, idades e situações conjugais, as desigualdades raciais se sobressaem, tendo sido constatadas nas três edições da pesquisa nacional.