Aborto com Ciência” vai trazer pesquisas, dados, depoimentos reais, perspectivas jurídicas, sociais e de saúde para qualificar o debate sobre o tema
Pesquisadoras das áreas do Direito e da Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estão à frente do projeto Aborto com Ciência, podcast que vai trazer para o debate a questão do aborto e dos direitos sexuais e reprodutivos sob o olhar científico. A ideia é desmistificar o assunto e, mais que isso, qualificar e propor argumentos para o avanço dos direitos reprodutivos das mulheres. “Está na hora de pararmos de falar se as pessoas são contra ou a favor de uma questão que é muito mais estrutural: ela acontece e mata muitas mulheres. A ideia é trazer argumentos, evidências, pesquisas e relatos para tentar qualificar o debate e sair desse senso comum de que opinião pessoal basta para tratar de temas fundamentais para a busca por justiça e melhor condição de vida para todos”, conta Carla Rizzotto, professora na área de Comunicação e pesquisadora do grupo de pesquisa Comunicação e Participação Política (Compa) da UFPR.
O tema do aborto voltou à discussão quando a ministra Rosa Weber, antes de se aposentar, movimentou a pauta no Supremo Tribunal Federal (STF), e, ao votar a favor da descriminalização, mostrou o quanto o tema, de saúde pública, é urgente e necessário quando se fala de justiça social no país. “O Brasil tem uma das legislações mais ultrapassadas no que diz respeito ao acesso à saúde para mulheres. Não adianta achar que ser contra ou a favor vai resolver o problema. É preciso entender como o processo funciona e, desta forma, trabalhar para que cada vez menos o aborto aconteça e quando acontecer, que seja seguro e amparado pelo Estado, preservando a vida das mulheres. É preciso que a sociedade compreenda isso”, reitera Taysa Schiocchet, professora da área do Direito e coordenadora da Clínica de Direitos Humanos (CDH) da UFPR.
O podcast terá, na primeira temporada, episódios que abordarão perspectivas como as do direito e da saúde, com a participação de profissionais de grande renome na área, como é o caso da primeira convidada, advogada e pesquisadora do Instituto Anis de Bioética, Gabriela Rondon. Gabriela fez parte da equipe que participou da Audiência Pública (ADPF 442), que levou para o STF a ação que propõe a inconstitucionalidade da criminalização do aborto. “A luta da ADPF 442 é de retirar o aborto do Código Penal, e entender que o aborto não é um crime, é isso que está sendo votado no STF. Não se sabe ao certo sobre a retomada da pauta no Supremo, mas é preciso movimentar a sociedade para que evitemos que mães de família sejam presas por isso, é um primeiro passo, pequeno, mas muito fundamental”, diz Taysa.
Outro convidado é Jefferson Drezzet, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP e de Medicina do ABC. Jefferson ainda coordenou o Núcleo de Violência Sexual e Aborto Legal no Hospital Pérola Byington em São Paulo por quase 30 anos. No podcast, além de falar sobre a vasta experiência, Jefferson fala sobre realidades positivas e possíveis no pós-aborto, desmistificando fatos sobre o procedimento e a recuperação da mulher. “O aborto é uma questão de saúde pública. Por isso a gente pensou em convidar o Jefferson, que é uma grande referência na área e com muita prática, relatos, histórias. O ponto de vista da realidade é crucial para se entender a importância deste debate”, conta Taysa.
O podcast está sendo idealizado e produzido em parceria por dois grupos de pesquisa da UFPR. Um deles é da área da Comunicação, o Grupo de Pesquisa em Comunicação e Participação Política, o Compa, que debate ativismo digital, deliberação pública e conversações cotidianas. O outro é a Clínica de Direitos Humanos (CDH), da área do Direito da UFPR e que desenvolve vasta pesquisa sobre direitos humanos na perspectiva de gênero. Durante o podcast, pesquisas realizadas por ambos os grupos serão trazidas à tona, como forma de popularizar a ciência. “A gente precisa publicizar o que está sendo feito dentro das universidades, é um retorno para a sociedade, uma forma de oferecer dados para que o debate aconteça e, desta forma, consigamos buscar políticas públicas nas mais diversas áreas”, finalizam as idealizadoras do podcast.