Tentativa de urgência na PL 1904 no Congresso revela muito sobre os retrocessos promovidos pela atual legislatura. Projeto ignora, desvia e distorce fatos, como o de que o aborto é um evento comum na vida das brasileiras.
Ficções distópicas nos afetam porque, ao mesmo tempo em que causam estranheza, parecendo escapar à compreensão lógica e inteligibilidade histórica, margeiam as suas fronteiras e de lá nos espreitam, como se perguntando: “e se…?”
Transformada em série televisiva de grande sucesso, a conhecida novela de Margareth Atwood, “O conto da Aia”, tem ressoado essa angústia entre muitas mulheres brasileiras frente ao cenário político dos últimos anos. E se estivermos mais próximas das aias do que jamais imaginamos?
O giro conservador que espreita o Brasil do século XXI, que agora bate forte em nossas vidraças, é um retrocesso. Uma volta a um lugar que críamos haver ultrapassado. Mas e se representar algo para além disso?
E se estivermos sendo arrastadas para um projeto de sociedade supremacista, fundada jurídica e ideologicamente na misoginia e no racismo? E se estivermos instituindo a legalidade e legitimidade da fratura entre humanos e não humanos?