Levantamento com base em todas as 600 mil declarações nos plenários da Câmara e do Senado no século XXI revela ápice em meio à expansão da ala conservadora
Quando a expressão “fake news” estreou no Congresso? Quem é o parlamentar que mais falou em plenário? Quais são os assuntos mais debatidos no Poder Legislativo? Essas e outras perguntas serão respondidas na série “Com a Palavra” — uma radiografia inédita da atuação de deputados e senadores a partir da análise dos seus discursos no século XXI. Esse levantamento exclusivo, feito com auxílio de inteligência artificial, examinou 600 mil pronunciamentos nas tribunas da Câmara e do Senado. As reportagens integram o Irineu, projeto do GLOBO que reúne jornalismo e tecnologia para a criação e o desenvolvimento de novos produtos de IA.
A reportagem abaixo, que inaugura a série “Com a Palavra”, mostra como o conservadorismo avançou no dia a dia dos discursos no Congresso ao longo deste século.
Conservadorismo em expansão
O Congresso atingiu o recorde de discursos sobre a pauta de costumes em meio à expansão da ala conservadora na legislatura atual e a embates entre os três Poderes. Levantamento feito pelo GLOBO, com auxílio de inteligência artificial, mostra que discussões em torno de temas como drogas, armas, aborto e agendas identitárias atingiram o ápice nos últimos dois anos. O movimento é capitaneado pela bancada evangélica — que também ampliou o debate de conteúdos relacionados à segurança pública. A nuvem de palavras abaixo mostra a trajetória dos termos mais usados pelos congressistas neste século.
As pautas de costumes, que habitualmente representavam em torno de 3,5% das discussões no plenário do Congresso, atingiram 7,2% em 2023 e estão em 6,4% em 2024, com os trabalhos ainda em andamento. Na prática, esse tipo de assunto apareceu em 1.510 discursos na Câmara e no Senado em 2023, o dobro da média no século XXI. Ao todo, houve um crescimento de 135% no volume de falas sobre drogas e aborto em 2023 em relação à média entre 2001 e 2022.