MonitorA expõe misoginia e transfobia contra candidatas em 2024

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Foto: Upslon

18 de setembro, 2024 AzMina Por Gabi Coelho

Analisamos comentários da internet a debates da TV Band para prefeituras de seis capitais brasileiras e encontramos muita de misoginia, transfobia e etarismo

Atenção – A reportagem abaixo mostra trechos explícitos de conteúdo misógino e transfóbico. Optamos por não censurá-los porque achamos importante exemplificar como o debate é violento na internet, como a violência política contra mulheres se espalha pelas redes e é sexista em suas formas, como podemos identificá-la.

Em um cenário eleitoral dominado por homens cisgêneros, poucas mulheres atualmente candidatas não só enfrentam a pressão das urnas, mas também uma enxurrada de ataques nas redes sociais. No debate para as prefeituras das grandes capitais brasileiras, candidatas como Tabata Amaral (PSB-SP), Maria do Rosário (PT-RS) e Duda Salabert (PDT-MG) viram suas propostas ofuscadas por comentários misóginos e transfóbicos. Insultos que deslegitimam não apenas suas campanhas, mas também a trajetória pessoal e profissional de cada uma.

É o que mostram os resultados da terceira edição do MonitorA – observatório de violência política de gênero online desenvolvido pelo Instituto AzMina, InternetLab e Núcleo Jornalismo. Em 2024, a primeira etapa do projeto analisou mais de 4.700 comentários potencialmente ofensivos feitos durante e após os debates da TV Band em seis capitais brasileiras, no canal do YouTube da emissora.

O  MonitorA coletou dados de transmissões oriundos de Natal (RN), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS). Ao todo, foram 18 homens candidatos e apenas 8 mulheres candidatas: Juliana Brizola (PDT-RS), Maria do Rosário (PT-RS), Andrea Caldas (PSOL-PR),  Maria Victoria (PP-PR), Natália Bonavides (PT – RN), Adriana Accorsi (PT – GO),  Duda Salabert (PDT-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP).

Entre todo o conteúdo analisado, 1.680 comentários eram de fato ofensivos: 11% foram  classificados como ataques diretos e 24,3% como insultos – é importante dizer que vários usuários cometem mais de uma agressão no mesmo texto. A cidade de São Paulo concentrou quase metade (49,4%) do total dos comentários analisados, seguida por Porto Alegre com 22,6%. O debate com menos participação da audiência foi o de Goiânia, com 133 comentários (3,4% do total).

A cada edição, o MonitorA classifica milhares de conteúdos ofensivos dirigidos a candidatas em redes sociais, e diferencia o que é insulto ou ataque. Os insultos são expressões desagradáveis, e até inadequadas, mas que fazem parte do jogo político no limite da liberdade de expressão. Já os ataques, que podem ser infantilização, misoginia, assédio e incitação à violência, entre outros, tem recomendação de exclusão das redes.

“Ao buscarmos o equilíbrio entre um olhar para violência política e a necessidade de fazermos a manutenção das redes sociais como espaço que acolhe a liberdade de expressão, passamos a diferenciar o que são insultos – comentários hostis que compõem o cenário de disputa eleitoral – e os ataques. Os ataques extrapolam a hostilidade, conectando-se com discriminações a grupos historicamente marginalizados, como as mulheres, as pessoas LGBTQIAP+ e as pessoas negras. No último caso, defendemos a remoção desses conteúdos e um aprimoramento das políticas das plataformas para que ataques como esses sejam removidos de forma célere”, explica Fernanda K. Martins.

Yasmin Curzi, pesquisadora associada ao Karsh Institute of Democracy da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, explicou à reportagem que muitos dos ataques e insultos captados pelo MonitorA persistem porque encontram “apoio nos estereótipos de gênero” já presentes e aceitas na sociedade, como é o caso da infantilização das mulheres. Ela recorda a visão histórica das mulheres como incapazes para atos políticos e até cognitivamente, enquanto os homens seriam “mais livres intelectualmente”.

Público chama Tábata Amaral de “menina” e “coitada”

A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), candidata à prefeitura de São Paulo, foi uma das figuras mais atacadas durante o debate na capital paulista, recebendo quase a metade dos comentários ofensivos direcionados aos cinco candidatos presentes. Os outros quatro eram homens. Dos 289 insultos ou ataques que a paulistana recebeu, 73 foram classificados como inferiorização, 34 misoginia e 34 etarismo.

A parlamentar comentou o impacto desses ataques em sua campanha e na percepção da participação feminina na política: “A violência política contra mim não é novidade. No dia a dia do Congresso recebo ataques diários. Apesar de eu estar acostumada, isso não pode ser tolerado. É um ambiente tóxico e é preciso estabelecer mecanismos de denúncia, proteção e enfrentamento. Na campanha, tenho respondido a esses ataques desmascarando quem me ofende.”

Acesse a matéria no site de origem.

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