Dupla vulnerabilidade aumenta risco de violência para mulheres com deficiência

23 de setembro, 2024 Terra Por Isadora Wandermurem

Mulheres com deficiência sofrem com machismo e capacitismo, duas formas de opressão que se sobrepõem

Apesar dos avanços nos últimos anos em relação aos direitos de pessoas com deficiência, como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, esse grupo ainda enfrenta uma clara violação de direitos humanos, principalmente as mulheres. Elas são as que mais sofrem violências em todos os grupos de deficiência em comparação com os homens, segundo o Atlas da Violência 2024.

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado neste sábado, 21, Patrícia Lorete, dona do perfil Janela da Patty no Instagram e especialista em acessibilidade, diversidade e inclusão com foco em pessoas com deficiência, fala sobre fatores de vulnerabilidade para essas pessoas.

“As mulheres com deficiência enfrentam dupla vulnerabilidade que amplificam seus riscos de violência, já que sofrem tanto com o machismo quanto com o capacitismo, duas formas de opressão que se sobrepõem”, disse Patrícia, em entrevista ao Terra NÓS.

“A dificuldade de reagir, seja pelos impedimentos da própria deficiência, seja pela falta de acessibilidade, até nas próprias delegacias para fazer o registro da violência, é particularmente perigosa, pois isso dá à pessoa abusadora a ideia de que essas mulheres são ‘mais fáceis de oprimir, abusar e manipular’ ou de que têm menos chances conseguir denunciar a violência.”

Dados

A violência doméstica contra pessoas com deficiência liderou o número de notificações em 2022, totalizando 8.302 registros, seguida pela violência comunitária (3.481 registros) tipo misto (2.359 casos) e violência institucional (458 casos). O registro de notificações de mulheres com deficiência vítimas de violência doméstica chegou a ser 2,6 vezes maior em relação aos homens.

O Atlas da Violência 2024 constatou que a violência física é a mais comum contra pessoas com deficiência, correspondendo a 55,3% dos casos. Em seguida, vem a violência psicológica (31,7% das notificações), e a violência sexual (23%). As pessoas mais afetadas por esses tipos de violência estão na faixa etária de 10 a 19 anos, com 21,3% dos registros, e de 20 a 29 anos (15,8%).

A violência sexual foi mais registrada entre as mulheres, especialmente na faixa etária de 10 a 19 anos. O número de notificações de violência de natureza sexual chegou a ser quase sete vezes maior para mulheres (3.064 notificações) do que para homens (442 notificações).

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) de 2022, cerca de 18,6 milhões de pessoas no Brasil, com dois anos ou mais de idade, têm algum tipo de deficiência, representando 8,9% da população.

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