Palestinas no Brasil e suas propostas para o cessar-fogo em Gaza

21 de outubro, 2024 Folha de S. Paulo Por Bianca Santana

Objetivo de grupo é pressionar Israel de forma semelhante à campanha de boicote ao apartheid

“Algumas vezes, resistir é uma jovem tocar alaúde [instrumento com cordas] para distrair crianças palestinas do som das bombas. Resistir é transformar as associações de mulheres em Gaza em centros para atender feridos, que são muitos e em estados graves. Resistir é uma médica continuar a atender enquanto o hospital é bombardeado”, disse Soraya Misleh, jornalista palestino-brasileira, mestra e doutora em estudos árabes pela USP, além de coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino SP.

Soraya esteve três vezes na Palestina, na Cisjordânia. Somente em uma delas, em 2010, conheceu o lugar onde o pai nasceu e de onde foi expulso com a família aos 13 anos. “A aldeia do meu pai foi uma das cerca de 500 destruídas em 1948. Quando fui para lá, ele me pediu duas coisas: terra e azeite.”

Em 2011 e em 2015, Soraya tentou voltar ao local de nascimento do pai. “Israel proibiu a minha entrada dizendo que eu era uma ameaça à segurança pelo fato de eu ser de origem palestina, ser jornalista e expor os crimes da colonização, denunciar.”

Apesar da intensa cobertura da imprensa na região, Soraya afirma que a perspectiva das mulheres palestinas não aparece.

O objetivo de palestinas organizadas no Brasil, segundo ela, é pressionar Israel aos moldes do que foi a campanha de boicote à África do Sul nos anos 1990. “Todos os Estados têm responsabilidade com a convenção para a prevenção e repressão ao genocídio. O Brasil é signatário desde 1952. Então, precisa romper relações com Israel.”

Tenho tido a oportunidade de ouvir mulheres e homens palestinos, israelenses e brasileiros, com pontos de vista e proposições políticas diversas. A defesa da coexistência pacífica de dois Estados, com respeito às convenções e acordos internacionais, é uma proposta comum a diferentes grupos. Assim como há os que defendem um único Estado —Palestina ou Israel— na região. Trata-se de uma complexidade que precisamos buscar compreender sem abrir mão da defesa de que todas as pessoas, de qualquer nacionalidade e religião, possam viver com proteção e liberdade.

“Meu pai foi um dos 800 mil palestinos expulsos das suas terras violentamente, em 1948, quando Israel se criou sobre os corpos palestinos e os escombros das aldeias em 78% do território histórico da Palestina”, disse Soraya.

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