Quando Rebeca Mendes engravidou em 2017, ela lutou pelo direito de abortar no Brasil. O Supremo Tribunal Federal (STF) negou seu pedido de permissão, então ela viajou para a Colômbia para interromper a gravidez.
Agora ela é uma ativista pelo direito de fazer abortos seguros e legais no país, onde eles só são permitidos em caso de estupro, anencefalia ou se a vida da mãe estiver em perigo.
As perspectivas não são boas para ativistas da causa. No Congresso, liderado pelos conservadores, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara votou na semana passada a favor de uma emenda constitucional para proibir totalmente o aborto e torná-lo ilegal mesmo nesses três casos extremos.
Em São Paulo, a prefeitura determinou que um dos poucos hospitais do país que realizava abortos legais nesses casos excepcionais — mesmo em gestações com mais de 22 semanas — suspendesse o procedimento.
Isso provocou um protesto ruidoso de mulheres em uma audiência pública na Câmara Municipal na semana passada, exigindo que o serviço continue no Hospital Vila Nova Cachoeirinha.
Rebeca Mendes lamentou que os hospitais brasileiros não cooperem com as mulheres que buscam abortos legais, e que, em vez disso, até informem a polícia, divulgando seus registros médicos.
“Essas mulheres estão sendo investigadas. Então a situação é muito pior do que a gente imagina. Não são só as barreiras, são os prontuários violados e mulheres sendo denunciadas na polícia por fazerem um aborto legal”, disse ela à Reuters na audiência.
Rebeca reclamou que os serviços de aborto de São Paulo não estão fazendo seu trabalho e negligenciando as mulheres que precisam de abortos legais.
“A gente tem histórias, a gente acompanha diariamente meninas e mulheres que vão procurar os serviços de aborto legal aqui da cidade e elas escutam absurdos de uma equipe que está ali apenas para acolhê-las, mas parece que faz papel de polícia”, disse.