Os efeitos da desigualdade no Brasil agravam a mortalidade materna

21 de janeiro, 2025 Correio Braziliense Por Maria Beatriz Giusti e Vitória Torres

De acordo com o Ministério da Saúde, mulheres negras e que vivem em comunidades carentes são as principais vítimas

A mortalidade materna é evitável. Fatores como o acesso limitado a cuidados médicos de qualidade, falhas no pré-natal, complicações durante o parto e a falta de um atendimento mais humanizado às gestantes contribuem para um aumento inaceitável de casos e deterioração da saúde pública.

A meta do Brasil para reduzir a mortalidade materna até 2030 é um compromisso firmado por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O país pretende alcançar, até lá, um máximo de 30 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Entre as iniciativas do governo, está a Rede Alyne, programa do Ministério da Saúde que visa reduzir em 25% a mortalidade materna até 2027.

Dados de 2022 mostram uma razão de mortalidade materna de 57,7 a cada 100 mil nascidos vivos, superior ao limite definido nos ODS. No caso das mulheres negras, a situação é ainda mais grave, a mortalidade materna chegou a 110,6, um índice quase duas vezes superior ao geral. Como resposta, o governo estabeleceu uma meta de reduzir a mortalidade em 50% entre mães negras até 2027.

Doenças como a hipertensão, que poderiam ser controladas com medidas preventivas, são uma das principais causas de mortes maternas no Brasil. A enfermidade é mais prevalente na população negra por questões genéticas, mas a falta de acesso a acompanhamento adequado agrava a situação. Casos simples poderiam ser tratados sem necessidade de medicamentos, caso as gestantes tivessem acesso à informação e aos cuidados básicos.

Conforme dados dos Ministérios da Saúde e da Igualdade Racial, a mortalidade materna por hipertensão aumentou 5% entre mulheres negras no período de 2010 a 2020. Além disso, hemorragias e infecções se destacam entre as mortes evitáveis, cuja letalidade poderia ser sensivelmente reduzida com o pré-natal adequado. O acompanhamento serve para detectar e tratar doenças maternas e fetais.

“O número de óbitos maternos registrados no Brasil em 2020 e 2021 apresentou um crescimento considerável em comparação aos anos anteriores, relacionado ao período da pandemia de covid-19. Durante a pandemia, houve um colapso nos serviços de saúde, comprometendo a assistência pré-natal, o parto e o período pós-parto. Além disso, fatores, como a necessidade de isolamento social e questões socioeconômicas também dificultaram o acesso aos serviços de saúde”, afirma o Ministério da Saúde, por meio de nota enviada ao Correio.

Em um corte racial, de acordo com os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, a população de mulheres pardas são as maiores vítimas. Os últimos dados apontam que, em 2023, 704 mulheres pardas perderam a vida em decorrência de complicações na gestação. Entre as mulheres brancas o número de óbitos foi de 389. Já as pretas somam 143 vítimas fatais.

A diferença entre os hospitais públicos e privados também foi relevante. Em 2023, 754 gestantes faleceram em estabelecimentos públicos, enquanto 456 mulheres morreram nos hospitais privados. No total, morreram 1.292 mulheres no Brasil.

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