Divisão desigual do cuidado gera um custo para as mulheres no mercado de trabalho formal
A chegada de um filho traz consigo um turbilhão de emoções e mexe com a rotina da família. É um evento muito esperado pelos pais, mas que requer muito trabalho e amor. São horas e horas dedicadas àquele serzinho. O nosso tempo passa a ser dele.
Como a divisão do trabalho de cuidados recai predominantemente sobre as mulheres, a alocação de tempo para essa atividade altera muito mais a sua rotina do que a do seu companheiro. Além disso, a atual legislação brasileira concede à mulher 120 dias de licença após o nascimento do bebê enquanto prevê somente 5 dias para o pai. Essa divisão desigual gera um custo para as mulheres no mercado de trabalho formal, a chamada penalidade pela maternidade. Em vários países, após a licença-maternidade, as mulheres observam uma queda nas horas trabalhadas, na participação e nos salários.
Segundo o estudo “The labor market consequences of maternity leave policies: Evidence from Brazil”, de autoria de Cecilia Machado, colunista da Folha, e Valdemar Neto, a penalidade pela maternidade no Brasil existe e é alta. O emprego e o salário das mulheres caem, em média, 50% e 36%, respectivamente, 48 meses após o nascimento do bebê. No entanto, os resultados são heterogêneos em relação ao nível de escolaridade e determinadas ocupações.
Os efeitos da penalidade nas áreas de STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) são menores do que os observados na média geral. De acordo com o estudo “Child Penalty in STEM: Evidence from Brazilian Labor Market”, de autoria de Cecilia Machado, Laísa Rachter, Mariana Stussi e Maria Eduarda Perpétuo, o emprego e o salário das mulheres caem, em média, 33% e cerca de 29%, respectivamente, 48 meses após o nascimento da criança. Essas áreas oferecem, em média, salários mais elevados, porém, a participação das mulheres no mercado de trabalho dessas ocupações é muito menor do que a dos homens, cerca de 26%.
Outro resultado encontrado pelas autoras é que 3,8% das mulheres que estavam empregadas nas áreas de STEM migram para ocupações não-STEM 12 meses após o nascimento do bebê. Esse número chega a quase 16% depois de 48 meses. Nesse caso, embora continuem empregadas, essas mulheres enfrentam outro tipo de penalidade, migrando para ocupações que, em média, pagam menos.