Com frequência, quando vem à tona uma denúncia de agressão sexual contra um homem poderoso, muita gente aponta que pode ser uma falsa acusação, como a que teria sido feita contra Neymar, em 2019. É um exemplo bastante usado.
Até pra quem discorda do jogador em outros temas, esse é um ponto que não deixa dúvida: afinal, ela era uma aproveitadora e mentiu à polícia sobre a violência.
A investigação não comprovou o estupro. Mas há um outro ponto deixado de lado de forma conveniente. A mulher que o denunciou, Najila Trindade, foi investigada por suspeita de denunciação caluniosa e fraude processual. E também foi inocentada.
“Se ela não mentiu, então o que houve? Ficamos sem resposta.”
Essa história é lembrada no quinto episódio do podcast “Neymar”, do UOL Prime, apresentado por Juca Kfouri e Pedro Lopes.
Os jornalistas lembram que Neymar havia acabado de ter sua imagem manchada por agredir um torcedor na França quando surgiu o boletim de ocorrência feito por Najila, descoberto pelo repórter Luís Adorno.
Neymar estava sendo acusado de estupro por uma modelo que viajou a Paris para encontrá-lo. As passagens e a hospedagem foram pagas pelo jogador. Esses elementos foram fundamentais para que o senso comum a atacasse: como se uma mulher que se desloca em busca de uma relação afetiva ou sexual não pudesse sofrer violência.
Como se o pagamento da viagem autorizasse o homem a fazer qualquer coisa com o corpo dela, mesmo que no caminho se arrependesse e negasse as interações sexuais.
A primeira reação do jogador foi se defender por meio de um vídeo. Ele se disse pego de surpresa: “Quem me conhece sabe que eu jamais faria isso”.
Tite, então técnico da seleção, também foi rápido em defender o seu mais caro jogador. Pediu cuidado para não generalizar e atestou “o caráter, a índole e o grande coração” de Neymar.
Pedro Lopes conta que “Neymar pai usava todo o seu poder e influência para tentar limpar a imagem do filho”: “Ele e os assessores da NR Sports entraram em contato com os jornalistas envolvidos na cobertura. Diziam que a mulher era mentirosa. E o pedido era pra que a história não fosse publicada”.
O repórter diz que, com ele, até exageraram no tom: “Disseram que o tratamento dado para esse caso iria mostrar pra eles quem deveria ser bem tratado no futuro e quem não deveria”.