Clara Zetkin: a mulher que criou o Dia Internacional das Mulheres e desafiou o fascismo

26 de junho, 2025 Revista Fórum Por Iara Vidal

Militante, jornalista e parlamentar, ela dedicou sua vida à defesa dos direitos femininos, desafiou o patriarcado, o capitalismo e o nazismo com ideias que seguem atuais

Há exatamente 92 anos morria Clara Zetkin (1857–1933), uma das figuras mais importantes do feminismo marxista e do movimento socialista internacional. Militante, jornalista e parlamentar, ela dedicou sua vida à defesa dos direitos das mulheres e da classe trabalhadora.

Foi ela quem propôs a criação do Dia Internacional das Mulheres, durante a II Conferência das Mulheres Socialistas, realizada em 1910, na cidade de Copenhague, capital da Dinamarca. A proposta foi aprovada por unanimidade, e no ano seguinte, a data passou a ser celebrada em países como Alemanha, Áustria, Suíça e novamente na Dinamarca. As manifestações focavam no direito ao voto, igualdade de direitos e melhores condições de trabalho para as mulheres.

Clara foi pioneira ao afirmar que a luta das mulheres não podia estar separada da luta de classes. Ou seja, não bastava lutar por direitos individuais — era preciso transformar a estrutura econômica da sociedade. Para ela, a verdadeira emancipação feminina só seria possível com a superação do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista.

Ela criticava o que chamava de “feminismo burguês” — um feminismo voltado às mulheres das classes altas, que ignorava as demandas das operárias e trabalhadoras. Em seu ensaio mais conhecido, “A questão feminina e a luta de classes” (1899), Clara escreveu uma frase que ficou célebre: “A mulher proletária luta ombro a ombro com o homem de sua classe contra a sociedade capitalista”.

Luta contra o nazifascismo

Zetkin foi próxima de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, duas importantes lideranças da esquerda alemã, com quem fundou o Partido Comunista da Alemanha (KPD, na sigla em alemão). Rompendo com os social-democratas, ela assumiu uma postura radicalmente anticapitalista e feminista. Como deputada no Parlamento Alemão — o Reichstag — tornou-se uma das primeiras mulheres a exercer um cargo político de tamanha relevância.

Mesmo idosa e com a saúde debilitada, Clara não se calou diante do avanço do fascismo na Alemanha. Em 1932, aos 75 anos, por ser a deputada mais velha, presidiu a sessão de abertura do Reichstag e fez um discurso histórico denunciando os perigos do nazismo, que ganhava força sob a liderança de Adolf Hitler.

Ligação com a Revolução Russa e a URSS

Clara Zetkin também teve uma relação direta com a Revolução Russa de 1917. Ela apoiava os bolcheviques e estabeleceu uma relação política e ideológica próxima com o líder revolucionário Vladimir Lênin. Passou a atuar na Internacional Comunista — ou Comintern, como era chamada em alemão — uma organização internacional criada por Lênin para unir os partidos comunistas do mundo.

Ela viajou várias vezes à União Soviética (URSS), onde participou de congressos e reuniões com líderes do regime. Clara elogiava políticas como o direito ao divórcio, ao aborto legal, à educação e ao trabalho para as mulheres, implementadas na URSS, considerando essas ações fundamentais para a libertação feminina.

Exílio, morte e honras de Estado

Com a ascensão do nazismo, Clara se exilou em Moscou, capital da então União Soviética (atual Rússia), onde morreu em 1933. Ela foi enterrada com honras de Estado junto ao Muro do Kremlin, em uma área reservada aos heróis da Revolução Russa — o que mostra o reconhecimento da sua importância internacional.

Sua vida pessoal também rompeu padrões da época: teve dois filhos com o revolucionário russo Ossip Zetkin, com quem viveu sem se casar formalmente, e mais tarde se casou com o artista alemão Georg Zundel, 18 anos mais jovem. Viveu a maior parte da vida como viúva e militante dedicada.

Obra e legado

Clara Zetkin deixou uma obra composta principalmente por artigos, discursos e ensaios. Entre os textos publicados no Brasil, destacam-se: “A questão feminina e a luta de classes” (1899), “O direito das mulheres” (coletânea de discursos) e “Revolução e contra-revolução: escritos e discursos”.

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