Feminicídios aumentaram em 2024; especialista alerta sobre prevenção, atendimento e cobertura ética da imprensa
O aumento da violência contra a mulher voltou a chamar atenção nas últimas semanas após o caso de um homem que agrediu a namorada com mais de 60 socos no rosto. A vítima, de 35 anos, sofreu fraturas múltiplas e passou por uma cirurgia de reconstrução facial que durou sete horas. Em 2024, 1.492 mulheres foram mortas no Brasil por serem mulheres, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, um crescimento de 0,7% em relação a 2023, enquanto o total de mortes violentas intencionais caiu 5,4%, atingindo o menor número desde 2012.
Para Marisa Sanematsu, diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, casos como esse mostram o extremo da violência e a necessidade de intervenção precoce. “O que nós entendemos desse caso é que, mais uma vez, vemos o extremo da violência praticada contra uma mulher. […] Não precisou muita coisa para essa explosão de violência de uma forma cruel e covarde”, afirma ao BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato.
Ela ressalta ainda o papel social da imprensa no combate ao violência a mulher. “Por um lado, é muito importante a divulgação de informações, especialmente sobre direito das mulheres. […] Por outro lado, sempre temos que tomar um pouco de cuidado com essa espetacularização tão excessiva da exposição extrema de casos de violência. A imprensa tem muita responsabilidade social, tem um papel importante no debate e no enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres”, indica.
O Instituto Patrícia Galvão acompanha a cobertura de feminicídios há mais de 20 anos e aponta avanços, como a incorporação da palavra “feminicídio” no jornalismo e uma maior consciência da população sobre o tema. No entanto, Sanematsu alerta que a violência contra mulheres segue crescendo mesmo com a queda da violência geral. “Quando olhamos as tentativas de feminicídio, elas tiveram um aumento muito maior, de 19%. É gravíssimo, porque daí é só a morte mesmo”, ressalta.
A diretora também destaca barreiras que impedem mulheres de romper relações violentas, como o medo do agressor, a dependência econômica e a falta de apoio psicológico e social. “As mulheres enfrentam muitas barreiras, […] precisam de apoio do Estado e da sociedade toda”, aponta.
Mesmo com os avanços da Lei Maria da Penha, que completa 19 anos em 2025, Sanematsu observa que os serviços de proteção ainda são insuficientes e concentrados nos grandes centros urbanos. “Nós temos muito poucos serviços, esses serviços não dão conta de atender a mulher, e além do problema da quantidade, temos problemas com a qualidade. […] Os agentes que atendem as mulheres têm que ser capacitados, isso ainda falta”, destaca.
Para a ela, a prevenção é fundamental e envolve educação, conscientização sobre direitos e campanhas contra a violência. “Todo feminicídio mostra que o Estado fracassou, que a sociedade fracassou. Cada morte de mulher é uma prova de que uma morte poderia ter sido evitada e não foi. Esse é o grande alerta em relação aos crimes de feminicídio: todos poderiam ter sido evitados”, declara.
Como pedir ajuda
Se você ou alguém que você conhece sofre violência doméstica ou de gênero, é possível buscar ajuda. Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher, para receber orientação e apoio. Também existem serviços especializados como as Delegacias de Defesa da Mulher e as Casas da Mulher Brasileira, que oferecem atendimento policial, psicológico e social. Em caso de emergência, acione a polícia pelo 190.