6 em cada 10 brasileiros conhecem uma mulher que foi estuprada quando menina

Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro (Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, 2025)-capa

30 de setembro, 2025

Casos de estupro de meninas e mulheres são uma realidade próxima da maioria da população. Os brasileiros reconhecem a maior vulnerabilidade das meninas de até 13 anos, que na percepção da maioria são estupradas dentro de casa e por parentes e que não estão preparadas nem física nem emocionalmente para serem mães. Por isso, a população brasileira defende o direito de as vítimas de estupro interromperem a gravidez de forma legal e segura pelo SUS. É o que mostra a mais recente pesquisa de opinião realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceria com o Instituto Locomotiva. 

Do total de entrevistados na pesquisa, 59% conhecem alguma mulher que foi vítima de estupro quando tinha até 13 anos e 56% conhecem alguma mulher que foi vítima de estupro com 14 anos ou mais (Nota: Neste estudo, as vítimas de estupro foram categorizadas como “meninas de até 13 anos” e “mulheres de 14 anos ou mais” com o objetivo de facilitar a compreensão dos entrevistados sobre a situação de estupro de vulnerável, que pela legislação atual refere-se a vítima menor de 14 anos)

15% das mulheres entrevistadas já foram vítimas de estupro; destas, 12% foram estupradas quando tinham até 13 anos

Entre as mulheres entrevistadas, 15% declaram que já foram vítimas de estupro. Considerando a população feminina no Brasil, são 12,9 milhões de mulheres. Dentro desse total de vítimas, a maioria sofreu a violência até os 13 anos: esse grupo corresponde a 12% de todas as mulheres brasileiras, o equivalente a 10,4 milhões.

Acesse na íntegra no final desta página o relatório da pesquisa Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro (Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, 2025).

6 em cada 10 mulheres que foram estupradas quando meninas não falaram para ninguém

“Na época, não entendi o que tinha ocorrido e não conseguia lembrar com clareza, achava que era coisa da minha cabeça, porque as imagens  vinham como flashes. Anos depois, passei a tomar ciência do que realmente ocorreu e que não foi minha culpa e sim que tinha sido vítima.”
Mulher, moradora da região Nordeste, parda e com 45 anos ou mais

“Na época, não tinha a cabeça das adolescentes de hoje, nem sabia que o que aconteceu era considerado estupro, só depois de adulta fui entender a gravidade do acontecido.”
Mulher, moradora da região Sudeste, parda e com idade entre 25 a 44 anos

“Eu tinha 4 anos e, na época, não fazia ideia do que significava. Só depois de adulta fui saber o que passei.”
Mulher, moradora da região Nordeste, parda e com idade entre 25 a 44 anos

“Só descobri que a situação era um estupro quando eu estava adulta, os homens ficaram impunes.”
Mulher, moradora da região Norte, parda e com mais de 45 anos

Além de enfrentarem sozinhas o drama do estupro, a maioria das vítimas não procurou nem foi levada a nenhum serviço de atendimento após a violência. Apenas 15% das vítimas estupradas quando menores de 13 anos e 11% das que foram vítimas quando maiores de 14 anos foram atendidas na polícia e 9% e 14%, respectivamente, tiveram atendimento na saúde.

22% da população conhecem uma vítima que engravidou após um estupro

Como resultado da falta de atendimento na saúde, entre quem conhece vítimas de estupro, 30% sabem de uma menina que engravidou em decorrência da violência sexual e 26% conhecem uma mulher (com 14 anos ou mais) que passou pela mesma situação. 

Metade das meninas que engravidaram depois do estupro não interrompeu a gestação

Entre quem conhece alguma vítima que engravidou em decorrência de estupro:

  • 52% conhecem um caso de menina de até 13 anos que teve uma gestação decorrente de estupro que não foi interrompida 
  • 38% conhecem um caso de menina de até 13 anos que teve uma gestação decorrente de estupro que foi interrompida 

  • 40% conhecem um caso de uma mulher (14 anos ou mais) que teve uma gestação decorrente de estupro que não foi interrompida 
  • 51% conhecem um caso de uma mulher (14 anos ou mais) que teve uma gestação decorrente de estupro que foi interrompida

Entre as entrevistadas vítimas de estupro, 8% engravidaram

15% das mulheres declaram já terem sido vítimas de estupro. Destas, 8% engravidaram. São 1 milhão de mulheres que ficaram grávidas após sofrer uma violência sexual.

O que a população pensa sobre o estupro? 

Maioria dos brasileiros sabe reconhecer quando uma situação configura estupro

95% reconhecem ao menos uma das situações como estupro. Porém, cai para pouco mais da metade (57%) o total que reconhece todas as situações apresentadas como estupro. 

Quem são as vítimas mais frequentes de estupro: por faixa etária e por raça/cor

Na percepção dos entrevistados, as vítimas mais frequentes de estupro são as meninas com até 13 anos e, considerando-se a raça/cor, as meninas e mulheres negras.

Percepção da população é que o estupro de meninas costuma acontecer em casa e o agressor é um parente

“Comecei a ser abusada criança, com 6 anos, sem nem entender o que acontecia e o abusador me fazia acreditar que eu era culpada e que, se eu contasse para alguém, ninguém acreditaria em mim. Meu abusador era o meu pai.”
Mulher, parda, moradora do Sudeste, com 25 a 44 anos

“Não gosto nem de lembrar, na época eu era muito nova, não tinha nem 10 anos ainda e foram anos passando por isso. Não foi apenas um parente, foram dois e agiam separadamente. Eu não entendia nada, mas sabia que era algo errado e fiquei com medo de falar para alguém. Passei anos me culpando, até perceber que eu não tive culpa nenhuma, eu era apenas UMA CRIANÇA!!!!! Apesar de tudo, hoje em dia sou obrigada a conviver com essas pessoas e tenho medo de ninguém acreditar em mim, afinal, quem diria que um avô e um tio fariam uma barbaridade dessas? E mais, já se passaram mais de 10 anos, por que eu falaria só agora? A verdade é que eu não quero destruir a vida de ninguém, igual fizeram comigo…”
Mulher, parda, moradora da região Nordeste e com idade entre 16 a 24 anos

É quase unânime opinião de que meninas não estão preparadas para serem mães 

Maioria da população (96%) considera que meninas de até 13 anos não têm preparo físico e emocional para serem mães. E 2 em cada 3 entrevistados consideram que meninas de até 13 anos também não têm condições de decidir se serão mães. 

Porém, diante da pergunta: “Você considera que uma menina com até 13 anos pode ser mãe por vontade própria, ou isso é sempre resultado de violência/estupro?”, as opiniões se dividem.

41% consideram que uma gravidez de menina é sempre resultado de um estupro, enquanto 43% afirmam que isso depende do caso, o que aponta para uma tendência de relativização do crime de estupro a partir de considerações externas – como consentimento da menina ou dos pais –  à norma legal, que define que qualquer relação sexual ou ato libidinoso com menor de 14 anos é um estupro.

Cerca de metade da população conhece a Campanha “Criança Não É Mãe”

Diante da pergunta: “No ano passado aconteceram várias manifestações contra as tentativas de proibir que meninas estupradas interrompam a gravidez, com as frases ‘Criança Não É Mãe’ e ‘Estuprador Não É Pai’. Você viu ou ouviu falar dessas manifestações?”, quase metade dos entrevistados declarou conhecer a Campanha.

E após ler uma apresentação do que trata a Campanha “Criança Não É Mãe”, a maioria considera que essa iniciativa é importante.

Apenas 27% conhecem todos os direitos garantidos por lei no Brasil para vítimas de estupro

O conhecimento sobre os direitos das mulheres vítimas de estupro ainda apresenta grandes variações. Enquanto maioria afirma conhecer medidas de assistência, somente 4 em cada 10 sabem que não é necessário boletim de ocorrência para interromper uma gravidez resultante de estupro.

Há muito desconhecimento sobre quando o aborto é legal ou não no Brasil

Esse desconhecimento aparece sobretudo quando se trata de gravidez de meninas com até 13 anos, reconhecidas pelos entrevistados como as principais vítimas de estupro no Brasil.

43% da população reconhece os 4 casos citados em que o aborto é permitido pela atual legislação brasileira: 

  • Estupro 
  • Estupro de vulnerável
  • Malformação fetal
  • Risco de vida para a pessoa gestante

Para 8 em cada 10, faltam informações para a população sobre a atual legislação sobre aborto legal. E 54% dos entrevistados acham que existem pessoas que espalham mentiras para impedir o acesso de mulheres e meninas aos serviços de aborto seguro no SUS. 

Direito a aborto em caso de estupro

7 em cada 10 mulheres gostariam de ter a opção de interromper legalmente uma gestação decorrente de estupro

Quando defrontadas com a possibilidade de uma gravidez decorrente de estupro, maioria das brasileiras afirma que gostaria de poder ter a opção de interromper essa gestação

E mais da metade optaria por interromper uma gestação decorrente de estupro

Quase metade da população conhece uma menina ou mulher que já interrompeu uma gravidez

79 milhões de pessoas conhecem uma menina ou mulher que já fez um aborto.

Entre quem conhece alguma menina/mulher que realizou um aborto, 71% afirmam que o procedimento foi feito de forma clandestina

Na população em geral, 33% ou 55 milhões de pessoas conhecem uma menina ou mulher que fez um aborto clandestino, ou seja, realizado em condições inseguras, que não atendem aos parâmetros de saúde estabelecidos em nível nacional e internacional.

6% das mulheres entrevistadas afirmam que já realizaram um aborto

Esse dado revela que 5 milhões de mulheres já fizeram um aborto.

“Eu sofri um abuso e engravidei, então, eu, com 13 anos, não poderia ser mãe, ia interromper minha vida, eu estava estudando, então, decidi não contar para os meus pais e pedir ajuda de uma amiga próxima. Então, ela me levou a um aborto clandestino e lá eu fiz o procedimento. Graças a Deus ocorreu tudo bem e hoje sou mãe de três filhos lindos, mas não esqueci o que eu sofri quando tinha 13 anos.”
Mulher, parda, moradora da região Sudeste e com idade entre 16 e 24 anos

“Eu me senti uma pessoa humilhada, eu estava dentro de casa arrumando a casa e era o marido da minha tia. Ele se aproveitou que não tinha ninguém, meus pais estavam trabalhando, meus irmãos estavam na escola. Nesse período, eu estudava à tarde, na parte da manhã eu ficava sozinha em casa, então, ele se aproveitou disso e infelizmente aconteceu o que aconteceu. Nesse caso, eu engravidei, graças a uma amiga minha eu fui numa clínica de aborto clandestina e tirei.”
Mulher, moradora da região Sudeste, parda e com idade entre 16 e 24 anos

“Era muito imatura e tinha uma educação rígida demais e também era vista pela minha mãe como a filha perfeita, não queria decepcionar ela. E também não queria sofrer as consequências de levar a gravidez adiante e ser rejeitada pela minha mãe.”
Mulher, parda, moradora da região Sudeste e com 45 anos ou mais

3 em cada 4 brasileiros são contrários à prisão de uma mulher que tenha interrompido a gravidez

A pesquisa mostra que a maioria da população demonstra empatia em relação às mulheres que interrompem uma gravidez e acredita que faltam informações de qualidade sobre o que a legislação atual prevê quanto ao direito ao aborto.

Assim, quando questionados se uma mulher que fez um aborto deve ser presa, 76% discordam.

Comentários

“Diferentemente do que diz a bancadora conservadora no Congresso, que tenta minar as discussões e restringir as hipóteses legais de interrupção da gestação, a pesquisa mostra que os brasileiros não são contrários ao aborto. A população é solidária com as vítimas de estupro que engravidam, consideram que meninas não estão preparadas para serem mães, respeitam o direito da vítima de optar por interromper uma gravidez e acham que nenhuma mulher deve ser presa por fazer um aborto.

O levantamento traz também um alerta sobre a falta de conhecimento sobre os direitos das vítimas de estupro e também sobre a persistência de um número ainda significativo de pessoas que não reconhecem como estupro diversas situações de desrespeito e coerção nas relações sexuais, em especial as que são justificadas pela presunção de consentimento ou, então, culturalmente naturalizadas”, afirma Marisa Sanematsu, diretora de conteúdo do Instituto Patrícia Galvão.

“A pesquisa foi um exercício de escuta da população sobre a violência sexual no Brasil. Ouvimos relatos dolorosos sobre meninas e mulheres que engravidaram vítimas de estupro e, sem apoio, recorreram ao aborto clandestino em condições inseguras. São histórias vividas e conhecidas por muitos na população brasileira. A maioria conhece uma vítima – e, portanto, não é por acaso que tantas mulheres vivem com o medo permanente de serem estupradas. Ao trazer essas percepções à tona, o estudo mostra que estamos diante de um problema estrutural e cotidiano que deve ser enfrentado com urgência e seriedade”, afirma Maíra Saruê Machado, diretora de pesquisa do Instituto Locomotiva.

Sobre a pesquisa

A pesquisa de opinião Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro mapeou as percepções, experiências e conhecimentos da população brasileira sobre a prática do estupro, com foco no direito de meninas e mulheres ao aborto legal e seguro. Pesquisa quantitativa digital com questionário de autopreenchimento e com amostra não ponderada de 1.200 entrevistas com homens e mulheres de 16 anos ou mais de todas as regiões do país. Período de campo: de 11 a 25 de julho de 2025. Margem de erro: 2,8 p.p. As perguntas cujas somas dos percentuais não totalizam 100% são decorrentes de arredondamentos ou de respostas múltiplas.

Contatos para imprensa

Julia Cruz – Instituto Patrícia Galvão | (11) 98482-2628 | [email protected]

Patrícia Castello – GBR Comunicação/Instituto Locomotiva | (61) 8134-5093 | [email protected]

Consulte também o Banco de Fontes com dados e contatos de especialistas em violência de gênero de todo o país

Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro (Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, 2025) Percepções sobre direitos de meninas e mulheres grávidas pós-estupro (Instituto Patrícia Galvão e Locomotiva, 2025)

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