Quebrar o silêncio e denunciar a violência doméstica salva vidas

13 de outubro, 2025 Correio Braziliense Por Nathália Queiroz

Número de denúncias de violência doméstica vem aumentando, mas, apesar de sua importância para dar fim a agressões, muitas mulheres se calam, aumentando o risco para si e a família

Denunciar, mais do que um ato de coragem, é um gesto por sobrevivência. Só no Distrito Federal, a Polícia Militar (PMDF) atendeu 11.298 ocorrências de violência doméstica até 9 de outubro deste ano. Em 2024, foram registradas 7.273 denúncias formais, um aumento de 21,3% em relação a 2023, segundo o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).

O cenário também é alarmante no país: mais de 21 milhões de mulheres vivem algum tipo de violência, o equivalente a 2,4 mil vítimas por hora, conforme o Instituto Patrícia Galvão. Apesar das denúncias, os números mostram que as agressões, muitas vezes, repetem-se dentro de casa, evidenciando que romper o ciclo da violência exige não apenas a coragem, mas também ações coordenadas.

No DF, a rede de proteção às mulheres tem se expandido nos últimos anos. Entre janeiro e junho de 2025, a Secretaria da Mulher (SMDF) realizou mais de 25 mil atendimentos, com 11.226 vítimas acolhidas em unidades como a Casa da Mulher Brasileira, os Centros Especializados de Atendimento à Mulher e os Espaços Acolher. Nesse período, o volume de pontos de atendimento dobrou, passando de 14 para 31, abrangendo todas as regiões administrativas.

Mais informações e dados sobre o atendimento às mulheres no DF estão disponíveis no Observatório da Mulher.

Ponto de partida

Mesmo por trás das estatísticas que preocupam, há mulheres que viram na denúncia o primeiro passo para retomar suas vidas. É o caso de Luciene dos Santos, 42 anos, gestora pública e fundadora do Instituto Mulheres Criativas, que transformou sua experiência pessoal em inspiração para outras. Quando enfrentou a violência em casa, o filho dela tinha apenas 2 anos, por parte do pai do menino. “À época, não tínhamos uma rede de apoio grande como temos hoje. Denunciar foi o que me deu forças para lutar, para viver”, lembra.

O caminho não era fácil. As agressões ocorreram em 2006, ano em que a Lei Maria da Penha foi implementada. Mesmo assim, Luciene conseguiu ajuda e, com o tempo, percebeu a importância de não se calar. Hoje, ela contabiliza 29 anos dedicados a ajudar mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo qualificação profissional, oficinas de artesanato, gastronomia e capacitação voltada para o empreendedorismo e a inserção no mercado de trabalho.

O objetivo é que essas mulheres recuperem sua autonomia, conquistem independência financeira e possam transformar suas trajetórias, assim como Luciene. “Este mês, o Instituto oferece cursos de cozinhas quentes em parceria com alunos de gastronomia da Universidade Católica de Brasília (UCB), proporcionando ferramentas para que elas possam empreender ou se inserir no mercado de trabalho”, enfatiza.

Ela destaca que a qualificação também permite que mulheres se fortaleçam emocionalmente e contribuam para a renda familiar, melhorando a dinâmica dentro de casa. “Meu objetivo é que todas superem os obstáculos que enfrentei”, afirma.

Dificuldades

Mas romper esse ciclo de violência não é uma decisão que se toma de uma hora para outra. Envolve enfrentar medos, culpas e uma rotina de abusos que se repetem dentro de casa. Para muitas mulheres, essa decisão é ainda mais complexa devido a fatores emocionais que dificultam pedir ajuda.

A psicóloga Rachel Ribeiro, especialista em atendimento a vítimas de violência, explica que a revitimização é um dos obstáculos mais comuns. “A mulher pode reviver o trauma no momento da denúncia, principalmente se for atendida por alguém que não está preparado para lidar com essa situação.”

Há outros fatores que complicam a decisão de denunciar. “Mulheres podem se sentir culpadas por terem escolhido o agressor como parceiro ou genitor de seus filhos”, diz Rachel. Ela ainda ressalta que, quando há filhos envolvidos, essa culpa se estende à privação do contato do genitor com elas. Além disso, muitas ainda carregam a sensação de que, de alguma forma, provocaram a violência. A vergonha de admitir a violência para a família e amigos e a baixa autoestima também são barreiras.

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