Estupros crescem na Amazônia, e facções submetem mulheres a normas de comportamento, diz Fórum Brasileiro de Segurança Pública

53772878112_7f8446bb04_o

Foto: Mídia Ninja

19 de novembro, 2025 g1 Por Arthur Stabile

Aumento foi de 4% de 2023 para 2024 nos nove estados que compõem a região. Facções aumentam presença e passam a controlar até relacionamentos de mulheres ligadas ou não ao crime organizado.

Os registros de estupros aumentaram na Amazônia Legal, segundo pesquisa divulgada nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O estudo aponta ainda que as facções aumentaram a presença na região e passaram a controlar até relacionamentos de mulheres ligadas ou não ao crime organizado.

Nove estados compõem a Amazônia Legal Brasileira: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Em 2024, foram 13.312 registros de violência sexual na região. O número representa uma taxa de 90,4 casos para cada grupo de 100 mil habitantes, número 38% maior do que a média nacional. O aumento foi de 4% em relação aos registros de 2023, enquanto o Brasil teve variação negativa de 0,3% no mesmo período.

Entre as vítimas, 77% tinham 14 anos ou menos.

O Amazonas teve alta de 41% nos registros de estupros de 2023 para 2024, maior registro entre os estados. Por outro lado, o Tocantins teve a maior queda, de 9%.

  • Acre: de 736 para 860 (16%);
  • Amapá: de 625 para 715 (14%);
  • Amazonas: de 951 para 1353 (41%);
  • Maranhão: de 1594 para 1811 (14%);
  • Mato Grosso: de 514 para 483 (-7,5%);
  • Pará: de 5.011 para 4.815 (-4,5%);
  • Rondônia: de 1.501 para 1.491 (-1%);
  • Roraima: de 729 para 848 (13%);
  • Tocantins: de 1.014 para 934 (-9%).

Está é a 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, que conta com parceria do Instituto Clima e Sociedade, do Instituto Itausa, do Instituto Mãe Crioula e do Laboratório Interpretativo Laiv.

O levantamento aponta também que quase metade dos municípios da Amazônia Legal têm presença de facções. O Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) são as mais presentes.

Alta de estupros com maior presença de facções

Isabella Matosinhos, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que não há uma única causa para explicar o cenário de alta nos estupros na Amazônia.

Entre as hipóteses, ela cita as fronteiras com outros países, já que crescem o risco de violações e a vulnerabilidade de mulheres em áreas de fronteira, onde não há tanta presença do Estado. Ela também cita o fato de as facções criminosas agirem em uma lógica que coloca o homem como figura central.

“A forma como as dinâmicas de relacionamento, a lógica que guia as masculinidades dentro das facções, são lógicas muitas vezes machistas. Então, não tem como a gente pensar que isso não vai se refletir nas práticas de violência contra a mulher. Faz sentido o crescimento das facções com o crescimento dessas taxas de estupro”, explica Isabella.
Segundo ela, as violências contra as mulheres são relativizadas pelos grupos a ponto de um estupro não ser necessariamente visto dessa forma pelos integrantes da facção, mesmo com estupradores ficando mais vulneráveis a ataques de outros detentos na cadeia.

“A partir do momento em que esse cara está preso, foi condenado por estupro, é uma coisa. Na prática, antes de chegar a isso, se um homem, faccionado ou não, comete uma violência sexual, será que é claro que isso é uma violência sexual?”, questiona a especialista.

Acesse a matéria no site de origem.

Nossas Pesquisas de Opinião

Nossas Pesquisas de opinião

Ver todas
Veja mais pesquisas