A indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal, anunciada justamente no Dia da Consciência Negra, escancarou uma verdade incômoda sobre o Brasil: somos ainda um país que adora celebrar símbolos, mas hesita em enfrentar as estruturas que perpetuam as desigualdades.
Em pleno Novembro Negro, quando o Brasil homenageia Zumbi, Dandara e todas as lutadoras e lutadores negros, assistimos à manutenção de um padrão que perdura há 137 anos desde a abolição. O espaço mais alto do Judiciário continua majoritariamente masculino, branco e distante da realidade da maioria do povo brasileiro.
São quatro décadas de Constituição e apenas três mulheres chegaram ao STF. Nenhuma mulher negra. Nenhuma. Num país onde mulheres negras são a base da pirâmide social, sustentam o trabalho informal, enfrentam cotidianamente a violência policial e a doméstica, a precarização da vida e o racismo institucional, essa ausência não é um detalhe, mas, sim, um projeto.
Diz-se costumeiramente que “o Supremo é uma Corte técnica”, como se competência fosse monopólio branco e masculino; como se não houvesse mulheres negras juristas, pesquisadoras, defensoras públicas, procuradoras, advogadas de excelência, capazes de ocupar esses espaços com altíssima qualificação. Há muitas. O que não há é vontade política de romper com a reprodução automática dos mesmos perfis no topo do poder.
A ausência de mulheres negras no STF não é apenas um problema de representatividade, mas democrático. Quando o Estado decide que certas vozes simplesmente nunca vão chegar ao lugar onde se interpreta a Constituição, fica nítida a discriminação entre quem importa e quem pode continuar sendo silenciada.