(O Estado de S. Paulo, com informações da AFP) O diplomata Hekmatollah Ghorbani, de 50 anos, acusado de abusar sexualmente de quatro meninas, de 9 a 15 anos, em um clube de Brasília, há um mês, foi demitido ontem pelo governo iraniano. “Após uma investigação sobre as ações do empregado da Embaixada Islâmica no Brasil, concluiu-se que o comportamento dele foi contrário ao regulamento administrativo e à conduta profissional e islâmica.” Como punição, ele também já foi expulso do serviço diplomático.
Ghorbani é casado, tem dois filhos e atuava havia dois anos no cargo de conselheiro, a terceira maior função na hierarquia diplomática. Segundo relato da mãe de uma das vítimas, que não quis ser identificada, havia dez meninas na piscina no dia do incidente. O diplomata as convidava para uma brincadeira na água e aproveitava-se de sua habilidade de nadador para acariciar as partes íntimas das crianças.
A abordagem se repetiu de forma ostensiva com quatro meninas mais próximas, que começaram a gritar e a pedir auxílio. Uma das vítimas viu que as outras choravam por causa do abuso e chamou a segurança.
O diplomata foi detido – e teve a ajuda de seguranças do clube, que impediram que fosse linchado por parentes das vítimas – e em seguida liberado pela 1.ª DP, por ter imunidade diplomática, prevista na Convenção de Viena. A Embaixada do Irã recebeu cópia do relatório policial, mas se recusou a comentar o caso inicialmente. Na sequência, o conselheiro foi mandado de volta para Teerã.
Mal-entendido. Três dias depois, a embaixada saiu em defesa do conselheiro. Disse que o caso foi um mal-entendido decorrente das diferenças culturais entre os dois países. Escrita em um português confuso, a nota também criticou a repercussão na imprensa.
Na nota, a representação diplomática disse que, “em virtude de algumas inverdades levantadas sobre a atitude do diplomata relacionada a algumas cidadãs brasileiras”, é necessário esclarecer que “uma das causas mais importantes sobre as virtudes e as diferenças entre as culturas é o mal entendimento e as consequências decorrentes que isso pode causar”. “Sendo nas demais sociedades, essas virtudes e valores relativos podem provocar dificuldades e uma série de incompreensão para as pessoas que estão vivendo num ambiente alienígena às suas características culturais (sic).” Ontem, o Estado voltou a procurar a embaixada, mas ninguém se manifestou sobre o caso.
Itamaraty. Já o Itamaraty não recebeu nenhuma informação oficial do governo do Irã sobre a demissão do diplomata. A última comunicação oficial foi em 7 de maio, quando a Embaixada do Irã em Brasília informou oficialmente que o diplomata estava desligado da missão aqui e devolveu a credencial diplomática emitida pelo País.
O governo brasileiro já havia aumentado a pressão sobre o Irã, após a fuga de Ghorbani, e pedido esclarecimentos oficiais sobre o caso. “Pessoalmente, eu consideraria inaceitável se algum diplomata brasileiro se portasse daquela maneira em qualquer país que estivesse acreditado”, ressaltou o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Acesse o pdf: Irã expulsa diplomata por abuso sexual (O Estado de S. Paulo – 22/05/2012)