18/06/2012 – Manifestantes vão às ruas em 13 cidades defender médico que apoia parto em casa

18 de junho, 2012

(O Estado de S. Paulo) Conselho Regional de Medicina do Rio denunciou o obstetra Jorge Kuhn, que defendeu na Rede Globo o parto domiciliar nos casos de gravidez de baixo risco; contra a decisão do Cremerj, marchas ocorreram em 13 cidades do País

Treze cidades foram palco de atos de repúdio à denúncia do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) contra o médico obstetra Jorge Francisco Kuhn. Em entrevista ao Fantástico, programa da Rede Globo, ele defendeu o parto domiciliar nos casos em que a gravidez é considerada de baixo risco. A denúncia foi encaminhada ao Conselho Regional de Medicinal de São Paulo (Cremesp), que deve avaliar o caso.

“Acho essa denúncia um exagero, afinal, eu apenas expressei a minha opinião”, disse o médico ao Estado. “Eu fui o estopim, mas isso tudo aqui não é só por mim. É pelo direito da mulher de escolher onde, como e com quem quer parir.”

Ontem, a Marcha do Parto em Casa, organizada por meio de redes sociais, reuniu cerca de mil pessoas num trajeto entre o Parque Mário Covas, na Avenida Paulista, e o Cremesp, na Rua da Consolação. A educadora perinatal Mariana de Mesquita, de 33 anos, foi uma das primeiras a chegar. “Acabei de vir de um parto em que o médico falou para a gestante que tinha de ser cesárea, porque o bebê era grande e podia nascer com o braço quebrado. Na verdade, ele não sabia fazer (parto) normal”, exemplifica.
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomende o parto natural, dados do Ministério da Saúde mostram que mais da metade dos partos feitos no País são cesarianas. Em hospitais particulares, esse índice sobe para 80%. Para a obstetriz Ana Cristina Duarte, uma das líderes do movimento, o nome da manifestação poderia ser “Marcha pelo Direito ao Parto”, porque, segundo ela, a cesariana não pode ser considerada um parto, mas um procedimento cirúrgico. “Nós queremos que as mulheres tenham o direito da escolha e que essa escolha seja respeitada, não importa onde ela queira ter o filho”, afirma.
A vice-presidente do Cremerj, Vera Fonseca, declarou que o parto domiciliar não passa de um retrocesso. “As intercorrências durante o trabalho de parto são mais comuns do que as pessoas pensam, e uma casa não tem infraestrutura para resolver os problemas que possam acontecer.” Embora nenhum médico seja proibido de realizar um parto domiciliar, Vera justifica a denúncia contra Kuhn. “Um profissional não pode vir a público e recomendar o parto domiciliar”, diz. “É legal ter filho num apartamento em Campinas ou em Copacabana, mas e a mulher grávida no sertão do Nordeste? A gente tem de ter consciência de que estamos falando com a população como um todo.”
O médico informou que ainda não recebeu nenhuma notificação do Cremesp a respeito da denúncia feita pelo Cremerj, mas disse que seus advogados estão cientes do caso.

No País
. Um grupo estimado em aproximadamente 150 pessoas defendeu a mesma bandeira no bairro da Barra, orla de Salvador, ontem. Munidos de cartazes, faixas, carro de som e apitos, médicos, enfermeiras, grávidas e familiares percorreram um trecho de pouco mais de 500 metros protestando contra o aumento no número de partos cesarianos e defendendo o direito de escolha da mulher grávida.
“Esse cerceamento da liberdade remete aos sombrios tempos da ditadura militar e não pode ser admitido na atual sociedade”, dizia uma carta aberta distribuída à população pelos organizadores do evento.
Pelo menos 70 mulheres, muitas com namorados, maridos e companheiros, também participaram da marcha, ontem, em Sorocaba.

A passeata ganhou o apoio de moradores. As mulheres protestaram contra a desumanização do parto.

Acesse em pdf: Manifestantes vão às ruas defender médico que apoia parto em casa (O Estado de S. Paulo – 18/06/2012)


(Folha de S.Paulo) Protesto foi feito após polêmica envolvendo obstetra de São Paulo, que defendeu nascimento fora dos hospitais. Médico disse que mulheres saudáveis podem ter filho em casa; conselho do Rio pede que ele seja punido

“Doutor, você não me engana, você prefere cesariana” foi um dos gritos da marcha das mães em defesa do parto em casa, que reuniu mulheres -muitas, óbvio, grávidas-, homens, crianças e bebês na tarde de ontem, em São Paulo.

O protesto ocorreu depois da polêmica envolvendo o obstetra Jorge Kuhn, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que defendeu, na TV, a possibilidade de nascimentos em ambientes extra-hospitalares. O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio) solicitou à associação paulista a punição dele.
Manifestantes -segundo a organização, entre 1.500 e 2.000 pessoas participaram da passeata- dizem que, apesar de o país não ter leis que proíbam a prática, existem alguns empecilhos.
O engenheiro Renato Carvalho, 40, que carregava o filho nos braços, relata um exemplo: o cartório exigiu documentos de um hospital para fazer o registro da criança, que havia nascido em casa.
“Foi necessária a intervenção de um outro dono de cartório para provar que [o documento] não era preciso.”
Os manifestantes, como ressalta a organizadora Renata Penna, 33, defendem o parto em casa, mas “com assistência, e apenas em casos de gravidez de baixo risco”.
Também afirmam que não se trata de uma prática ligada a um estilo de vida alternativo ou “coisa de bicho-grilo”, como diz a arquiteta Analy Uriarte, 46, que teve dois filhos em casa e um por cesariana. “Eu gosto de conforto, e parto no hospital não tem nada de moderno.”
O grupo, que saiu da Paulista, terminou o protesto em frente ao Conselho Regional de Medicina, na Consolação.

POLÊMICA
Na passeata, havia faixas de apoio a Kuhn, que participou do ato. Em entrevista ao “Fantástico”, da Globo, ele disse que o parto não é um procedimento cirúrgico e que mulheres sem problema clínico ou obstétrico e saudáveis podem ter o filho em casa.
Segundo o obstetra Luís Fernando Moraes, conselheiro do Cremerj, a postura do colega foi equivocada e tendenciosa. Para ele, o parto tem riscos e complicações inerentes. “Caso algum problema aconteça, é preciso intervenção imediata para salvar mãe e bebê”, disse.

(Folha de S. Paulo) Evento acontece em pelo menos 13 cidades e pede que grávida tenha o direito de escolher onde será nascimento

Para segurança no parto, Conselho Federal de Medicina recomenda que procedimento ocorra em maternidade
Mulheres de ao menos 13 cidades, sendo oito capitais, vão marchar no próximo fim de semana pelo direito de grávidas escolherem o local do parto -em casa ou no hospital.
A mobilização acontece por meio das redes sociais (www.facebook.com/MarchaDoPartoEmCasa).
O protesto ocorre depois de o Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) pedir à associação paulista punição ao obstetra Jorge Francisco Kuhn, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que defendeu a possibilidade de nascimentos em ambiente extra-hospitalar.
Em entrevista ao “Fantástico”, da Globo, Kuhn declarou que parto “não é um procedimento cirúrgico” e que mulheres sem problema clínico ou obstétrico, que sejam saudáveis, podem optar por ter o filho fora de um hospital.
“A postura do médico foi absolutamente equivocada e tendenciosa. O parto tem riscos e complicações inerentes. Caso algum problema aconteça, é preciso intervenção imediata para salvar mãe e bebê”, diz o obstetra Luís Fernando Moraes, conselheiro do Cremerj.
Ainda segundo Moraes, há maternidades e hospitais preparados para o parto humanizado -em que a mãe decide a forma de o bebê nascer.
“Demonstrar amor, carinho e respeito a um filho não depende de ele nascer em casa. Qual a necessidade de colocar uma paciente em uma situação dessas?”, diz.
A analista de sistemas Ingrid Lotfi, 34, uma das organizadoras da manifestação “Eu Não Preciso de Conselho para Parir”, que pretende reunir 500 pessoas em frente ao Cremerj, no próximo domingo, defende o direito da mulher escolher onde o filho irá nascer.
“Punir um profissional que defende isso é absurdo. Há estudos científicos que mostram que os riscos de ter um bebê no hospital ou no domicílio são similares”, diz Ingrid, que teve uma filha em casa.
Para ela, com parteiras treinadas e transporte disponível em caso de emergência, aliados a um bom pré-natal e boas condições de saúde da mãe, “é seguro o parto em casa”.
Os conselhos Federal de Medicina e Regional de São Paulo recomendam que os partos sejam em hospitais, por questão de segurança.

Médico teme punição, mas defende posição
O médico Jorge Francisco Kuhn, 58, voltou a defender a realização do parto em casa, desde que em gravidez de “baixíssimo risco”, que seja um “desejo profundo” dos pais e que haja hospital a menos de 20 km do local.
Kunh declarou que “teme” punição. “Embora não saiba o teor da denúncia e de não ter sido notificado, já conversei com meus advogados e vou me defender”, diz.
Ele afirmou que há oito anos, após publicação da recomendação do Cremesp para que partos fossem apenas em hospitais, parou de orientar procedimentos em domicílio.

Leia em PDF: Marcha de mulheres defende opção por fazer parto em casa (Folha de S.Paulo – 14/06/2012)
Médico teme punição, mas defende posição (Folha de S.Paulo – 14/06/2012)

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