(Denise Menchen, da Folha de S.Paulo-RJ) Diretora da ONU destaca retrocesso em acordos já firmados
À frente da ONU Mulheres, a entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet considera inaceitável o ataque a direitos femininos já ratificados em acordos internacionais.
O documento final da Rio+20 excluiu a expressão “direitos reprodutivos”, que designa a autonomia da mulher para decidir quando ter filhos -o texto fala apenas em “saúde reprodutiva”.
Bachelet defende a implantação de “políticas afirmativas” para aumentar a presença feminina na economia e na política e diz que, entre os principais problemas enfrentados pelas mulheres, estão a violência e a pobreza.
A partir de hoje, ela será a anfitriã da Cúpula de Mulheres Chefes de Estado.
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Folha – Qual é a sua opinião sobre a pressão do Vaticano para excluir da declaração final a referência aos direitos reprodutivos das mulheres?
Michelle Bachelet – Claro que sempre há países que têm sua própria visão sobre os direitos das mulheres. Mas a mulher não pode ser dividida. Não se pode dividir seus direitos em direitos econômicos e políticos e não garantir direito à saúde sexual e reprodutiva. A mulher precisa ter a capacidade de decidir e planejar sua própria família.
A que a sra. atribui a oposição a direitos femininos já acordados internacionalmente?
Pode haver razões diferentes, de cunho político, religioso ou cultural, mas isso não é aceitável. Temos que avançar em relação aos acordos já firmados, não retroceder.
O direito à saúde sexual e reprodutiva inclui o direito ao aborto seguro?
O acordo firmado no Cairo diz que cada país tem soberania para definir suas políticas em relação a esse tema. Mas, caso o aborto seja permitido por lei, ele tem de ser seguro.
Por que discutir o futuro que as mulheres querem em um fórum específico na Rio+20?
Nós queremos que a conferência resulte num compromisso maior em torno do reconhecimento de que as mulheres são peça vital para o desenvolvimento sustentável. Também queremos fazer uma chamada à ação.
Quais são os outros problemas que afetam as mulheres?
Não há país no qual a questão da igualdade de gênero e do empoderamento feminino esteja resolvida. Mesmo nos mais desenvolvidos nessa questão ainda existe diferença salarial entre homens e mulheres. Mas há locais em que os problemas representam ameaça à vida, como os relacionados a gestação, pobreza, fome e violência.
O que acha das cotas para garantir que as mulheres tenham acesso a posições de liderança nas empresas?
Ações afirmativas são necessárias quando há discriminação. No dia em que isso não for mais necessário, pode ser revisto. Mas vamos precisar de um bom tempo até lá.
Acesse em pdf: Ataques aos direitos femininos são inaceitáveis, diz Bachelet (Folha de S.Paulo – 21/06/2012)Leia também:
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