Organizações não governamentais (ONGs) que participam da Rio+20 divulgaram ontem uma carta de repúdio aos resultados da conferência, assinada por ícones do ambientalismo e do desenvolvimento sustentável. Entre eles, o cientista americano Thomas Lovejoy, a ativista indiana Vandana Shiva, o economista francês Ignacy Sachs, a ex-ministra brasileira Marina Silva, o físico José Goldemberg. Até o início da noite de ontem, eram quase 50 signatários, e a carta continuava aberta para adesões. – ONGs lançam manifesto contra texto (O Estado de S. Paulo – 22/06/2012)
Ambientalistas e organizações oficializam em documento que não endossam o texto produzido na conferência. A carta ‘A Rio+20 que Não Queremos’, assinada por personalidades, será entregue a Ban Ki-moon. – ONGs vão à ONU contra resultado da cúpula (Folha de S.Paulo – 22/06/2012)
“O futuro que queremos tem compromisso e ação – e não só promessas. Tem a urgência necessária para reverter as crises social, ambiental e econômica e não postergação. Tem cooperação e sintonia com a sociedade e seus anseios – e não apenas as cômodas posições de governos” – ‘A Rio+20 que não queremos’ (O Estado de S. Paulo – 22/06/2012)
Diretora internacional do WWF, a equatoriana Yolanda Kakabadse criticou duramente o resultado da conferência. Para ela, o documento acordado é “fraco, sem ossos e sem alma”. Nesta entrevista a O GLOBO, ela reclama que as sugestões da sociedade civil ficaram de fora do texto e diz que o custo para montar uma reunião com tamanha estrutura para se obter tal resultado não compensa. “Esse dinheiro poderia estar sendo usado em ações de sustentabilidade”, diz. “Fazer a conferência para nada é jogar fora o dinheiro da população”, acrescenta. – ‘Texto fraco, sem ossos e sem alma’, avalia Yolanda Kakabadse (O Globo – 22/06/2012)
‘Malogrou a Rio+20. Não há outra forma de descrever o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. Não se encontra palavra mais apropriada que “fracasso” para qualificar uma reunião cujo mérito maior foi evitar um retrocesso de duas décadas, em relação à primeira Cúpula da Terra, no mesmo Rio de Janeiro, em 1992. Até o comedido Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, permitiu-se afirmar que desejaria um documento final mais ambicioso.’ – Adeus, Rio, editorial (Folha de S.Paulo – 21/06/2012)
‘A presidente Dilma Rousseff e vários integrantes de seu governo saíram ontem em defesa do documento final da Rio+20. “O texto aprovado consagra avanços importantes”, disse a presidente, em seu discurso no primeiro dia da cúpula de chefes de Estado da Rio+20, ontem à tarde no Riocentro. Depois, citou conceitos que foram introduzidos na declaração, como erradicação da pobreza e igualdade racial. Mas a própria presidente fez uma ressalva ao afirmar que “a crise financeira e as incertezas que pairam sobre o futuro da economia mundial” criam um ambiente no qual “a disposição para acordos vinculantes fica muito fragilizada”. Ou seja, o documento tem muitas intenções, só que poucos compromissos compulsórios dos países para a implementação do desenvolvimento sustentável.’
O embaixador Luiz Alberto Figueiredo, secretário-executivo da Comissão Nacional para a Rio+20, respondeu às críticas de que teria faltado arrojo ao acordo. “Não se pode exigir ambição de ação se não existe ambição de financiamento. Quem exige ambição de ação e não põe dinheiro sobre a mesa está sendo pelo menos incoerente”, disse. – Governo afirma que documento final reflete a ambição coletiva (Folha de S.Paulo – 21/06/2012)
‘Outras críticas foram menos gentis. Como a da representante dos jovens, Karuna Rana, 24, das Ilhas Maurício: “Este não é o futuro que nós queremos. As crianças e os jovens estão fortemente frustrados com o documento”.
“É uma vergonha que tenha sido preparado um texto tão tímido aqui”, disse a egípcia Hala Yousry, representante do “major group” (grupo que representa a sociedade civil) das mulheres. Entre os pontos criticados está a derrubada, por pressão do Vaticano e de países em desenvolvimento, de um parágrafo que falava dos direitos reprodutivos femininos.
O grupo das ONGs pediu que fosse retirada a menção à sociedade civil do texto, pois as ONGs “não endossam o documento final”.
O presidente da França, François Hollande, um dos raros líderes de peso presentes, destacou duas deficiências: não transformou o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) em uma agência autônoma e não decidiu sobre novos mecanismos de financiamento. – Secretário-geral da ONU critica falta de ambição do resultado (Folha de S.Paulo – 21/06/2012)
‘A Rio+20 revelou um mundo mais conservador, e não só porque a Igreja Católica, apoiada por países como o Chile, conseguiu tirar do documento a referência a direitos reprodutivos, conceito aprovado na ONU há 18 anos que reconhece a autonomia das mulheres para decidir quando ter filhos. Em disputa pelo poder, tanto os países ricos quanto os emergentes jogaram na retranca nas negociações sobre possíveis caminhos de desenvolvimento que sejam justos socialmente e que preservem o ambiente. (…) As ONGs, em particular as ambientalistas, têm sua parte de culpa. Passaram a enfatizar um discurso utilitário, de que economia verde também dá lucro. Deixaram de falar de justiça, num mundo em que um quinto da população é de miseráveis.’ – O conservadorismo do mundo, por Claudia Antunes (Folha de S.Paulo – 21/06/2012)
O documento aprovado ontem, intitulado O Futuro que Queremos, está “totalmente fora de contato com a realidade”, de acordo ele. “Exigimos que as palavras ‘com plena participação da sociedade civil’ sejam removidas do texto”, disse Hmaidan, para uma audiência que incluía vários ministros, presidentes e outros chefes de Estado. Uma petição online, até agora assinada por mais de 35 ONGs (incluindo duas brasileiras: Vitae Civilis e Idec), critica o processo de negociação da Organização das Nações Unidas (ONU) e pede mais participação da sociedade civil nas decisões.
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20/06/2012 – Documento Rio+20: Mulheres protestam por retirada da expressão ‘direitos reprodutivos’
21/06/2012 – Documento da Rio+20: Ataques aos direitos femininos são inaceitáveis, diz Bachelet
À frente da ONU Mulheres, a entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet considera inaceitável o ataque a direitos femininos já ratificados em acordos internacionais. O documento final da Rio+20 excluiu a expressão ‘direitos reprodutivos’, que designa a autonomia da mulher para decidir quando ter filhos -o texto fala apenas em ‘saúde reprodutiva’