( Globo.com) Cerca de cem mulheres caminharam pela orla de Ipanema em defesa dos direitos reprodutivos e do parto humanizado, na tarde deste domingo. A manifestação também comemorou a anulação, obtida pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), das resoluções do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) que proibiam as acompanhantes profissionais — obstetrizes, doulas e parteiras — de dar assistência a partos em hospitais e maternidades. A decisão do Cremerj também impedia médicos obstetras de acompanhar partos domiciliares. O conselho já disse que vai recorrer da decisão.
— A maioria dos médicos prefere fazer parto cesárea por conveniência. Muitas vezes desrespeitam a vontade da mãe — ressalta o médico obstetra Jorge Kuhn, 57 anos, que defende a realização do parto normal em ambientes extra-hospitalares — Os médicos consideram o parto um evento cirúrgico e não um evento fisiológico. Isso dificulta o desenvolvimento do bebê e seu vínculo com a mãe. A cesárea prejudica a amamentação, por exemplo — completa.
No Brasil, 52% dos partos são cesáreas, segundo dados do Ministério da Saúde de 2010. O número ultrapassa o percentual máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 15%.
A decisão do Cremerj de proibir médicos de realizarem partos em residências será discutida na próxima reunião plenária do Conselho Federal de Medicina (CFM), que tem ingerência sobre as 28 instituições regionais do país, na segunda semana de agosto. Os conselheiros do CFM (28, além de um representante da Associação Médica Brasileira) vão deliberar sobre a questão, que gerou polêmica no Rio, podendo sugerir um estudo profundo e até vedar a medida do Cremerj.
A presença das doulas (acompanhante da gestante) também é cerceada pelo conselho regional. O Ministério da Saúde considera importante humanizar o parto e estimula a presença das doulas, além de estar capacitando parteiras e integrando-as à rede do SUS através do programa Rede Cegonha. O Sindicato dos Médicos do Estado do Rio, por sua vez, é contra as ações da pasta.
— Quem legisla sobre isso é o Congresso. O médido precisa acompanhar partos dentro de um ambiente hospitalar, com uma equipe médica pronta para qualquer emergência. Não há risco zero na medicina. Há pacientes com baixo risco — diz Jorge Darze, presidente do sindicato.
Acesse o pdf: Mulheres caminham pelo parto humanizado e comemoram derrota do Cremerj na Justiça (Globo.com – 05/08/2012)