(Folha de S.Paulo) O tratamento com antirretrovirais para casais em que haja um soropositivo reduz em ao menos 26% o risco de contaminação, segundo um estudo publicado hoje na revista médica “Lancet”.
Mas, após um ano, a eficácia da terapia como forma de prevenção diminui, o que sugere a possibilidade de resistência aos medicamentos ou outros fatores que dificultem o sucesso do tratamento.
De acordo com os autores da pesquisa, realizada com mais de 38 mil casais chineses por médicos do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, da Universidade Harvard e dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, esse é o maior estudo já feito sobre o tema até hoje em condições de vida real, sem os controles de estudos clínicos.
Desde 2011, com a publicação de uma pesquisa com 1.700 casais sorodiscordantes (um deles com HIV e o outro sem o vírus), começaram a ser divulgadas, pela Organização Mundial da Saúde, recomendações para que o tratamento nesses casos fosse feito de forma precoce, independentemente da contagem de células de defesa no sangue da pessoa infectada.
Em geral, a terapia só começa a ser oferecida se a proporção dessas células cai abaixo de certo patamar. Até setembro, no Brasil, era preciso ter uma contagem abaixo de 350 células/mm3 para começar o tratamento.
Agora, o limite foi elevado para 500 células/mm3 e, no caso dos casais sorodiscordantes, os remédios são oferecidos mesmo que a contagem esteja acima disso.
SUCESSO, EM TERMOS
A diferença do estudo publicado agora para o de 2011 foi a taxa de sucesso do tratamento. No trabalho anterior, a redução de risco de infecção foi de 96% e, agora, de apenas 26%.
De acordo com o infectologista Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP, as características da pesquisa chinesa levam a crer que os 26% sejam o patamar mínimo de proteção.
“Há, sem dúvida, muitas pessoas que usam os remédios de forma irregular e acabam tendo vírus no sangue em grande quantidade, o que deve ter contribuído para esse efeito”, diz o médico.
As dificuldades da terapia antirretroviral devem ser tema de conversa entre o médico e o paciente antes de seu início, segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
“O início do tratamento antirretroviral não é simples, exige mudanças de hábito. Você vai evitar complicações, mas vai usar os remédios por um período longo. Ainda é um tratamento muito duro, com efeitos colaterais.”
De acordo com Kallás, os medicamentos mais novos, que possibilitam tomar só um comprimido por dia e causam menos efeitos colaterais, facilitam a adesão dos pacientes. “O percentual de pessoas com carga viral indetectável no Brasil é cada vez maior. O tratamento como prevenção, portanto, deve atingir níveis superiores aqui.”
O uso dos antirretrovirais como forma de prevenção é a tendência agora, de acordo com o médico. Estudos têm mostrado benefício na administração das drogas a pessoas em grupo mais vulneráveis, como os homens homossexuais. “O que falta agora é saber como isso pode ser adaptado para o sistema de saúde” de forma segura.
Acesse em pdf: Terapia anti-HIV reduz risco entre casais (Folha de S.Paulo – 01/12/2012)