21/02/2013 – Decisão na Alemanha que permite adoção por casais homoafetivos pressiona Merkel por maiores mudanças

21 de fevereiro, 2013

(Uol notícias) Os casais de mesmo sexo na Alemanha conseguiram uma vitória na terça-feira (19), quando o Tribunal Constitucional Federal decidiu que os gays devem ser autorizados a adotar uma criança já adotada por seus parceiros.

O tribunal disse que a proibição existente à prática, conhecida como adoção sucessiva, viola o princípio de tratamento igual às pessoas independente de sua orientação sexual. Ele disse que o atual sistema também prejudica os direitos das crianças envolvidas.

O governo tem até julho de 2014 para realizar uma emenda à lei para incorporar a decisão, que se aplica aos gays em parceria civil.

Segundo a lei alemã, uma pessoa gay ou lésbica já pode adotar os filhos biológicos do parceiro ou parceira registrado. Na Alemanha, os homossexuais podem formar parcerias civis, mas não são autorizados a se casar.

Os partidos de oposição e ativistas gays acusam o governo de centro-direita da chanceler Angela Merkel de não promover a igualdade para os casais gays. Apesar das uniões civis fornecerem proteções a respeito de herança, direitos de visita, imigração dos parceiros para a Alemanha e outras questões chave, elas ainda não contam com alguns dos principais direitos das pessoas casadas, como os privilégios tributários.

De fato, a Alemanha está atrás de outros países europeus em direitos de adoção para os casais gays. Holanda, Bélgica, Espanha, Reino Unido, Suécia, Noruega e Dinamarca, todos permitem aos casais homossexuais a adoção de crianças, mas não a Alemanha. A França planeja permitir em breve.

Os comentaristas na mídia dizem que a União Democrata Cristã de Merkel e seu partido irmão bávaro, a União Social Cristã, estão sendo forçados pelas decisões da Justiça a aceitar as realidades modernas.

O conservador “Die Welt” escreveu:

“Isso significa um fortalecimento da posição legal das crianças adotadas. No futuro, elas terão dois pais legalmente autorizados a criá-las –o que lhes dará maior segurança legal e material. A decisão, que nesta forma se aplica apenas a uma pequena maioria de pessoas, é importante principalmente por suas implicações mais amplas. Será difícil no futuro manter o argumento de que os casais gays estão proibidos de adotar crianças. A ministra da Justiça alemã, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, saudou a decisão como histórica. O próximo passo agora deverá ser o direito pleno de adoção. A Justiça não decidiu a respeito disso. Mas a decisão aponta claramente nessa direção. Isso é bom. Porque a família é onde as crianças são amadas e criadas de modo responsável.”

O jornal de esquerda “Berliner Zeitung” escreveu:

“A lei de adoção terá que ser reformada nos próximos 14 meses. Ela deveria ser alterada de modo fundamental. Mas dada a campanha eleitoral próxima, é improvável que isso aconteça.”

“Pessoas honestas admitirão que ainda não sabemos muito sobre como crianças de pais de mesmo sexo se desenvolvem. Das 2 mil crianças vivendo em famílias homossexuais na Alemanha, apenas 119 foram pesquisadas. As demais ainda são pequenas demais.”

O jornal esquerdista “Die Tageszeitung” escreveu:

“Os conservadores ainda não perceberam que o mundo mudou. Grande parte da sociedade atual defende um status igual para gays e lésbicas. Mas os conservadores veem a instituição da família sob ameaça por causa do desejo de alguns poucos milhares de casais de gays e lésbicas de adotar crianças.”

“Os partidos conservadores estão politicamente isolados com sua posição homofóbica. Todos os demais partidos no Parlamento federal da Alemanha, o Bundestag, apoiam dar status igual a gays e lésbicas. Esse é precisamente o motivo para a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) não cederem e não legalizarem direitos parentais iguais para os casais homossexuais –o que seria a única consequência lógica da decisão. Para os conservadores, a distinção legal entre casais casados e parceiros homossexuais é uma das últimas posições que os distingue de outros partidos. Enquanto a CDU e a CSU permanecerem no poder, o Tribunal Constitucional continuará cercando o governo e o forçando a promover direitos iguais.”

“O próximo caso no Tribunal Constitucional contra a proibição aos direitos conjuntos de adoção por gays e lésbicas já está sendo preparado. E a decisão a respeito de um tratamento tributário igual deverá sair neste ano. Não é digno de um Estado democrático, progressista, que os tribunais tenham que forçar o governo a reconhecer a realidade.”

O jornal liberal de Berlim “Der Tagesspiegel” escreveu:

“A decisão de adoção representa um passo importante contra a discriminação dos homossexuais. O status igual do casamento homossexual e dos casais heterossexuais casados deveria ser óbvio em uma comunidade culturalmente progressista como a Europa.”

Mas o jornal acrescenta: “Para uma criança, nada pode substituir um pai e uma mãe. Nem avô e avó, nem tia e tio, nem a melhor babá, creche ou internato, nem o pai ou mãe solteiros mais perfeitos –assim como também não duas mães e dois pais. Eles são ótimos pais; o Estado e a sociedade lhes deve o mesmo apoio que dá aos heterossexuais. Mas nenhum pai pode ser a mãe de uma criança. Ou vice-versa”.

O jornal comenta que os casais gays e lésbicos devem ter direitos plenos de adotar crianças. “Mas não deveriam se surpreender pelas autoridades tenderem a preferir dar as crianças a casais tradicionais, dadas as mesmas qualificações e adequação. Isso não é uma expressão de uma ideologia homofóbica maliciosa de uma aliança católica-conservadora, mas uma visão pragmática das melhores chances para uma criança.”

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