(Folha de S.Paulo) A alta disponibilidade e o baixo custo da mão de obra doméstica no Brasil criaram um “efeito colateral”: é mais fácil para mulheres de classe média brasileiras enfrentarem o mercado de trabalho e construir uma carreira do que para as estrangeiras.
“Como diretora de recursos humanos, percebo isso muito nitidamente”, diz a francesa Virginie Fernandez, 40, no Brasil há 12 anos.
“As mulheres latino-americanas têm muito mais facilidade de ter uma carreira. Poucas das minhas amigas europeias conseguiram uma carreira internacional, pois não têm tão fácil a opção de ter empregados domésticos. Isso é uma libertação para a mulher do Brasil.”
Mas a situação brasileira está mudando.
Primeiro, o aumento de renda e de anos de estudo tem feito com que jovens que décadas atrás se tornariam domésticas possam procurar outras profissões.
Segundo, porque a legislação tem ampliado os direitos das empregadas domésticas. Tramita agora no Senado uma emenda constitucional que concede direitos como adicional noturno, hora extra, jornada máxima e pagamento de FGTS.
Os estrangeiros entrevistados pela Folha são unânimes em afirmar que acham ótimo que a ascensão social torne as empregadas mais bem pagas. Mas contam que, assim como os nativos, estão sofrendo para achar domésticas.
Com essa perspectiva de mudança na realidade do trabalho barato, as mulheres que vivem no país precisarão de mais apoio para continuarem essa trajetória de inclusão no mercado de trabalho, afirma a professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense Hildete Pereira de Araújo.
Segundo Hildete, uma das soluções da questão passa pela criação de políticas de Estado que tornem mais flexíveis o trabalho feminino.
“As carreiras das mulheres não podem depender das domésticas”, afirma.
A professora cita uma legislação da Austrália, onde é permitida uma jornada de trabalho com horários flexíveis para trabalhadoras com filhos de até sete anos.
Acesse o pdf: “Doméstica é libertação para carreira da brasileira” (Folha de S.Paulo – 24/03/2013)