Maioria das pacientes do Pérola Byington agora só é atendida após passar por posto de saúde
Unidade diz que precisa priorizar os casos mais complexos; serviço recebia mais de 90 mulheres por dia
Luiza Pereira, 32, que sofreu duas hemorragias neste ano devido a três tumores no útero, buscava ontem pela manhã atendimento no hospital Pérola Byington, no centro de São Paulo, considerado referência em saúde da mulher. Mas não conseguiu.
Desde o início desta semana, o hospital, ligado ao governo do Estado, passou a restringir o atendimento de casos de suspeita de câncer -e a direcionar pacientes para as UBSs (Unidades Básicas de Saúde), os postos de saúde ligados à rede municipal.
Antes, entre 90 e 100 pacientes eram examinadas por dia com suspeita de câncer de mama, por exemplo.
Agora, há um limite de 20 -15 delas pelo sistema de agendamento; cinco é o número máximo atendido de forma direta, “porta aberta”.
PRIORIDADE
O Pérola Byington alega a necessidade de priorizar casos de alta complexidade.
O diretor médico do hospital, Luiz Henrique Gebrim, diz que, antes, de 100 suspeitas atendidas, só 10 confirmavam a presença de câncer. Para ele, a mudança foi apenas no perfil das pacientes.
“Vimos que 90% dos casos que estavam passando por aqui eram coisas benignas e a consulta era mais um esclarecimento. Assim, estamos fazendo que essas pacientes não fiquem na fila com alguém com câncer”, afirmou.
Para ele, a demora no atendimento na rede municipal aumenta a procura pelo hospital. “O município está com absenteísmo de 30%. Os pacientes faltam nas consultas marcadas na unidade básica. O atendimento demora muito, o paciente desiste, e passa a procurar o hospital.”
Apesar da mudança, Gebrim diz que os atendimentos de urgência continuarão a ser feitos. “Se há urgência, ela vai passar pelo pronto atendimento. Uma paciente que teve um câncer de mama operado e está tendo uma metástase será atendida.”
“Não importava nem a posição geográfica, a gente aceitava de qualquer lugar do Brasil. Isso trazia uma desorganização pra gente”, disse Jorge Shida, diretor de mastologia do Pérola Byington.
De acordo com o diretor, o alto nível de atendimento no hospital é o motivo pelo qual mulheres com problemas de saúde buscam o serviço, mas que é inviável manter a procura. “O Pérola brilha tanto que o médico da UBS sempre remete para o hospital e não dá pra ser assim”, disse.
Pela nova diretriz, funcionários e médicos devem orientar as pacientes para que retornem aos postos de saúde para agendar suas consultas.
Luiza Pereira foi encaminhada ao hospital Ipiranga, na zona sul. Desde 2010, ela já passou por outros três postos e dois hospitais. “Como vou ter tratamento se sou jogada de um lado para outro?”