(O Globo – Coluna Ancelmo Goes) Daniela Mercury, 47 anos, avó, mãe de cinco filhos, ao expor seu amor por Malu Verçosa (“Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração pra cantar”), se juntou ao time de cantoras brasileiras que assumem sua homossexualidade ou bissexualidade, como Ana Carolina, Preta Gil e Marina. Isso sem falar em outras que não tornam pública.
Márcia Vieira, da turma da coluna, trocou dois dedos de prosa com a antropóloga Mirian Goldenberg sobre a concentração de mulheres gays na MPB.
Por que isso?
É uma questão que merece um estudo. O meio artístico é de vanguarda e não só permite como estimula que a pessoa seja mais libertária. Por outro lado, podemos fazer a pergunta inversa: por que tantas homossexuais só podem ser cantoras?
Como assim?
Será que elas poderiam ter outras profissões, assumir a sua opção sexual e continuar se comportando como gostariam? Elas certamente sobreviveriam, mas talvez tivessem que passar a vida fingindo. No mundo artístico, você pode ser quem você é de verdade. Veja o caso da Leila Diniz, a atriz. Ela queria ser professora primária. Mas era incompatível com o seu jeito: Leila falava palavrão, tinha uma vida amorosa que ela expunha sem medo. Então, virou atriz. É óbvio que muitos atores homo e bissexuais não assumem publicamente. Mas é mais fácil eles assumirem do que os políticos, por exemplo.
Por que tanta repercussão com a atitude de Daniela?
As pessoas imitam quem tem sucesso, prestígio e poder. Ser homossexual é algo que se evita mostrar porque fecha muitas portas. Mas estamos num momento, por causa do Marco Feliciano, em que assumir o que a gente é pode ser um ato de libertação para outras pessoas. O que a Daniela fez foi um ato político.
Viva a diversidade!