Ministra quer impedir que mulheres sejam obrigadas a sentar-se atrás nos ônibus
(O Globo) De volta à arena política israelense, a ex-chanceler e agora ministra da Justiça Tzipi Livni decidiu aproveitar a ausência de partidos religiosos ultraortodoxos no governo para promover mudanças. E anunciou ter instruído o ministério a preparar uma legislação ampla proibindo, por exemplo, que mulheres sejam obrigadas a sentar-se na parte traseira dos ônibus em bairros e cidades religiosas. O objetivo é fazer com que qualquer segregação em espaço público ou humilhação com base no gênero seja considerada crime.
As tensões entre a maioria laica dos israelenses e uma minoria de judeus ultrarreligiosos têm se exacerbado em várias cidades do país – com esses últimos tentando impor seu modo de vida ao resto da sociedade. Em Jerusalém, por exemplo, linhas de ônibus da empresa estatal que operam rotas usadas por judeus ultraortodoxos, como a que liga o Muro das Lamentações ao bairro ultraortodoxo de Mea Shearim, permitem, por pressão dos religiosos, que mulheres se sentem somente na parte de trás do coletivo, segregadas dos passageiros do sexo masculino.
Naquele bairro, o visitante já esbarra com cartazes afixados em todas os acessos exigindo que as mulheres se vistam “com modéstia”. Ou seja, pelo código de conduta ultraortodoxo, que não usem roupas jutas que marquem as formas femininas e estejam cobertas com blusas até os cotovelos e saias mais compridas que a altura dos joelhos pelo menos. As casadas devem, ainda, cobrir os cabelos, considerados sensuais, seja com o uso de lenços ou perucas. Não raro as que infringem as regras são alvo de olhares de reprovação. Em alguns casos, recebem cusparadas e até agressões.
Sem voz feminina na rádio
Outros casos polêmicos envolvem ainda a rádio ultraortodoxa Kol B’Rama, que permite a transmissão de vozes femininas apenas uma hora por dia para que ouvintes do sexo masculino não caiam em tentações proibidas pelo rígido estilo de vida ultraortodoxo. Nessas comunidades, a figura feminina é banida até de anúncios em jornais.
– A discriminação de mulheres no espaço público e nos serviços públicos não pode ser tolerada – afirmou a ministra Tzipi Livni. – As mulheres em Israel não vão sentar atrás nos ônibus. Mulheres em Israel vão participar de cerimônias de Estado e suas vozes serão ouvidas em estações de rádio e no Exército.
A ministra se referia a episódios recentes nos quais políticos ultraortodoxos se retiraram de eventos públicos em protesto pelo fato de haver mulheres dançando na presença de homens.
O anúncio foi feito um dia após o procurador-geral de Israel, Yehuda Weinstein, divulgar um relatório com 71 páginas de recomendações para colocar na ilegalidade qualquer comportamento que impeça as mulheres de receberem serviços públicos em iguais condições.
O Ministério da Justiça espera legislar e submeter seus projetos ao Parlamento ainda neste mês. Por um lado, teme-se que as novas regras aumentem a militância, o patrulhamento e até o vandalismo ultraortodoxo: temendo ataques, muitos marqueteiros já retiraram imagens de mulheres de cartazes, avisos e anúncios promocionais.
– A recomendação do procurador-geral de criminalizar a segregação e exclusão das mulheres na esfera pública é um avanço para a sociedade israelense e para o judaísmo, que tem sido distorcido por fanáticos – afirmou Shahar Ilan, vice-presidente da ONG Hiddush, que defende a liberdade religiosa em Israel.
Acesse em pdf: Israel faz cruzada contra segregação de sexos (O Globo – 10/05/2013)