(Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids) Mais um retrocesso para a garantia do direito humano à saúde se evidencia no Brasil nos últimos tempos, depois de uma série de conquistas decorrente de três décadas de muita luta do movimento de HIV/AIDS. Desta vez, lamentavelmente, o ministro Alexandre Padilha solicitou que fosse tirado do ar o material da campanha “Sem vergonha de usar camisinha”, lançada pelo Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e destinada a profissionais do sexo. Se a escolha do tema teve o objetivo de reduzir o estigma da prostituição associada à infecção pelo HIV/AIDS, por ocasião do Dia Internacional da Prostituta e com slogans como “Sou feliz sendo prostituta”, a censura diante da campanha só reforçou o quanto práticas discriminatórias vêm se institucionalizando, em detrimento do reconhecimento das demandas em saúde pública e em nome de forças conservadoras e pressões religiosas.
Reações a estes acontecimentos recentes vêm sendo observadas por meio da publicação de cartas de repúdio, manifestações em redes sociais e petições online, com críticas às medidas adotas pelo ministro Padilha, que também acarretaram na demissão e renúncia de gestores do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais. No entanto, mobilizações nas ruas, como as que marcaram a história do movimento de HIV/AIDS no país, têm sido pontuais.
O que estamos esperando para levar nossas reivindicações em defesa do que demoramos anos para construir coletivamente em defesa das políticas de prevenção e do direito a uma vida com dignidade às pessoas vivendo com HIV/AIDS?
A história da epidemia de HIV/AIDS nos mostrou e continua a nos mostrar que silêncio ainda é igual a morte. E que a nossa indignação e mobilização que deram voz às nossas demandas e, com isso, visibilidade às nossas reivindicações. Que não nos deixemos silenciar pelos retrocessos e interesses políticos que comprometem o reconhecimento da cidadania. Ao contrário, vamos aproveitar este momento de renovação e manifestações populares que tomam conta das ruas do Rio de Janeiro e de todo o país para seguirmos adiante, participando e levantando os nossos cartazes, ecoando nossas reivindicações. Novos atos estão sendo programados pelas cidades brasileiras.
Levemos às ruas as nossas bandeiras e o nosso grito de repúdio à censura e a tudo mais que ameace a política nacional de HIV/AIDS que conquistamos e construímos!
Juan Carlos Raxach é Assessor de Projetos da Abia.