19/07/2013 – Malala, heroína na ONU, ainda tem “eco frágil” no Paquistão

19 de julho, 2013

(UOL) O Paquistão tem um problema com Malala Yousafzai. Ou, mais precisamente, ele está dividido. A adolescente de 16 anos, jovem pashtun do vale do Swat, vítima de um atentado dos talebans em outubro de 2012 por sua ação a favor da educação das meninas, suscita simpatia e aversão em seu país de origem.

Mas seus partidários são tão discretos quando seus adversários são barulhentos. Os liberais do Paquistão, que existem, sentem uma amargura profunda. E uma dissonância como essa não ajuda em nada a imagem do Paquistão no cenário internacional.

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O brilhante discurso de Malala Yousafzai diante da Assembleia dos Jovens das Nações Unidas em Nova York, na sexta-feira (12), só acentuou o mal-estar. Os talebans “pensavam que uma bala poderia nos calar, mas eles fracassaram”, declarou a jovem paquistanesa no púlpito, antes de se lançar em um vibrante apelo a favor da educação das crianças. A plateia a ovacionou em pé.

Todos conseguiam notar, sob seu lenço rosa, as sequelas deixadas pelas duas balas que quase a mataram em Mingora, capital de Swat, região ocupada durante dois anos pelos talebans antes que o exército paquistanês os desalojasse na primavera de 2009. Durante esse período taleban, Malala Yousafzai manteve seu diário no site em urdu (língua oficial do Paquistão) da BBC, em que expressava sua indignação como menina impedida de ir à escola. Os talebans quiseram puni-la.

Choveram homenagens elogiosas do mundo inteiro depois que Malala, em uma convalescença combativa, falou na ONU. Mas, no Paquistão, o clima era outro. Sua página no Facebook logo foi bombardeada por mensagens raivosas, acusando-a de “agente dos americanos”. Então, por que ela não denunciou as vítimas inocentes dos ataques de drones americanos nas zonas tribais fronteiriças do Afeganistão?, perguntavam seus detratores nas redes sociais.

Na melhor das hipóteses, ela foi manipulada para servir ao funesto desígnio do Ocidente contra os muçulmanos em geral e o Paquistão nuclear, particularmente. Na pior, ela está buscando glória e dinheiro. Tal era o teor das mensagens em seu próprio país, alimentadas pela teoria da conspiração, inspiradas por sua fala na ONU.

Eco frágil
Para muitos liberais no Paquistão, aquilo foi demais. Então eles contra-atacaram. Em um artigo publicado na terça-feira (16) no jornal “Dawn”, a romancista Bina Shah exprimiu sua raiva. Ela escreveu que essas reações são “a manifestação vergonhosa da maneira como os paquistaneses tendem a se voltar contra as pessoas de quem eles deveriam ter orgulho”.

Em seu blog, um jornalista do mesmo jornal, Anwar Iqbal, pediu para que não “abandonem Malala”. Dirigindo-se a seus compatriotas, sabendo que a maioria deles rejeita a ideologia e os métodos dos talebans, Iqbal os exorta a saírem de sua passividade: “Vocês estão calados, mas seus inimigos não. Vocês conseguem se levantar a favor da menina mais corajosa que tivemos em gerações?”.

O “outro Paquistão” está voltando a se expressar, mas seu eco continua frágil.

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