(O Globo) Em meio às críticas da imprensa e da oposição à perseguição ao “Guardian” e à detenção do brasileiro David Miranda, companheiro de Glenn Greenwald, que revelou no jornal britânico segredos da Agência de Segurança Nacional americana (NSA), o governo britânico tentou justificar a decisão de forçar o jornal a destruir arquivos vazados pelo americano Edward Snowden. O vice-premier Nick Clegg afirmou que os documentos poderiam causar uma “séria ameaça à segurança nacional” se caíssem em “mãos erradas”.
– Se informações altamente sensíveis estiverem sido mantidas de forma desprotegida, temos a responsabilidade de protegê-las – afirmou um porta-voz de Clegg.
Na segunda-feira, o “Guardian” revelou que autoridades britânicas foram há cerca de um mês ao jornal e ameaçaram retaliar a publicação caso os discos contendo o material vazado por Snowden não fossem destruídos. Foi revelado que a pressão sobre o jornal partiu de dois dos principais assessores do premier David Cameron, o secretário de Gabinete, Jeremy Heywood, e o assessor de Segurança Nacional, Ken Darroch. De férias, Cameron não comentou as revelações.
Patriota descarta retaliação
O “Guardian” revelou a pressão depois de o brasileiro David Miranda ficar nove horas detido no principal aeroporto de Londres, Heathrow, sob uma legislação antiterror. Ele é casado com o jornalista do “Guardian” Glenn Grennwald, que revelou as informações de Snowden. Miranda voltava da Alemanha, de onde trazia mais material vazado pelo ex-técnico da CIA, repassado pela documentarista Laura Poitras. A advogada de Miranda, Gwendolen Morgan, será julgada na quinta-feira uma liminar para impedir o acesso ao conteúdo dos equipamentos eletrônicos confiscados durante a detenção.
Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota descartou qualquer retaliação ao Reino Unido pelo incidente com Miranda, mas disse esperar que Londres devolva os equipamentos.
O uso do discurso de segurança nacional e de leis antiterror para cercear a liberdade de imprensa tem esquentado o debate na imprensa mundial. O jornal britânico “Independent” comparou o caso com o do brasileiro Jean Charles de Menezes, um eletricista brasileiro morto pela polícia britânica após ser confundido com um terrorista.
“Ainda não está claro se Miranda percebeu como a Polícia Metropolitana de Londres avançou nestes oito anos, desde que alvejou seu compatriota. O fato é que, até agora, o ingrato não agradeceu à polícia por tê-lo deixado voltar vivo para casa”, ironizou.
Num movimento para acalmar as críticas internas, o governo de Barack Obama autorizou a liberação de relatórios ultrassecretos da NSA que apontam a coleta de até 56 mil e-mails de americanos sem relação com suspeitas de terrorismo. A espionagem ilegal, sem mandato judicial, teria ocorrido entre 2008 e 2011 e não foi intencional. Após perceber o equívoco, a NSA teria abortado a operação.
Acesse o PDF: Governo britânico defende destruição de material de jornal (O Globo, 22/08/2013)