(Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome) Histórias de superação mostram como a participação feminina no Bolsa Família transformou a vida de pessoas simples que venceram a fome, quebraram o ciclo da pobreza extrema e estão mudando o próprio destino e o das novas gerações
Quando Leila Rodrigues Cardoso, 32 anos, se inscreveu no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, para receber o Bolsa Família, foi movida por três desejos: garantir a alimentação da família, conseguir um emprego e oferecer aos filhos a promessa de um futuro melhor. Assim como as quase 13 milhões de mulheres titulares do cartão do programa de transferência de renda, Leila protagoniza uma nova etapa da história do Brasil: em menos de dois anos, o país conseguiu retirar 22 milhões de brasileiros da extrema pobreza, do ponto de vista monetário. E as mulheres foram o carro-chefe para essa grande mudança.
“A importância do benefício foi muito grande na minha vida, pois, com ele, eu comprava o pão, o gás, uma coisinha ou outra para os meninos. Então, me ajudou bastante”, conta Leila, que entrou para a faculdade de Serviço Social e deixou o Bolsa Família. “Eu sempre busquei mais. Terminei meus estudos, estou trabalhando, tenho minha casa, não dependo mais do Bolsa Família. Eu dependo de mim agora. Lutei muito para chegar aonde cheguei. Eu sou uma vencedora!”, comemora a estudante, que trabalha em um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) em Formosa (GO).
Para ela, a educação e a qualificação profissional são passos que todos os brasileiros devem seguir para melhorar de vida. “Os meus filhos têm que estudar porque é o único bem que eles vão ter, que ninguém vai tomar deles. Para poder, lá na frente, ter uma formação, ter um trabalho melhor”, sustenta Leila.
Histórias de superação, como a de Leila e de outras mulheres, motivaram o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome a produzir dois vídeos inteiramente dedicado a elas, para comemorar os 10 anos do Bolsa Família. Nesta segunda-feira (23), o Brasil conhecerá a história de Leila e de outras trabalhadoras simples, cheias de sonhos, que só aguardavam uma oportunidade para dar uma guinada em seus destinos e também na vida dos seus filhos, que imprimirão a marca da mudança nas novas gerações.
Empoderamento das mulheres
Considerado o maior programa de transferência de renda do mundo, das 13,8 milhões de famílias que recebem o benefício, 92,37% dos titulares são mulheres. “A priorização da titularidade do cartão Bolsa Família para as mulheres partiu da constatação de que elas tendem a utilizar os recursos disponíveis para o aumento de bem-estar de toda a família”, explica a secretária Nacional de Renda de Cidadania adjunta do MDS, Letícia Bartholo.
Segundo ela, o papel exercido pelas mulheres, ao longo dos 10 anos do programa, tem contribuído para ganhos de cidadania, autonomia e direitos entre as mulheres mais pobres. “Notou-se uma ampliação, por exemplo, do poder das mulheres na decisão por trabalhar ou não”, reforça.
Um mito derrubado com a experiência acumulada em uma década do programa é o de que o benefício do Bolsa Família seria um estímulo para que as mulheres tivessem mais filhos. “Percebeu-se, ao contrário, que aumentou o número de beneficiárias que utilizam métodos contraceptivos, o que indica maior poder de decisão sobre quantos filhos querem ter e em qual momento de sua vida, ou seja, maior exercício de seus direitos reprodutivos”, contra analisa Letícia Bartholo. Além disso, segundo a secretária adjunta, pesquisas qualitativas indicam que o acesso regular à renda transferida pelo programa tem contribuído para que elas se percebam como sujeitos autônomos, superando a sujeição à dominação masculina.
Estudo realizado pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade de Brasília (Nepem/UnB), intitulado O Programa Bolsa Família e o Enfrentamento das Desigualdades de Gênero, aponta três impactos na condição social das mulheres titulares do benefício: aumento do poder de compra, com estímulo à economia local, já que o dinheiro utilizado circula no município; afirmação da autoridade feminina no espaço doméstico, uma vez que ela deixa de depender exclusivamente do marido; e a percepção da própria mulher de ser uma cidadã brasileira.
Outro levantamento – o “Perfil das Famílias do Cadastro Único” –, feito pelo MDS em 2011, indica que as beneficiárias titulares do programa têm em média 38 anos de idade, 63,5% se autodeclaram pardas, 25,6% brancas, 9,9% indígenas e 0,3% amarelas. O estudo revela também que, dos 13,8 milhões responsáveis familiares que recebem o Bolsa Família, 80,4% já frequentaram a escola.
Capacitação profissional
Além disso, o Pronatec Brasil Sem Miséria – programa do governo federal que tem por objetivo oferecer qualificação profissional para aumentar as oportunidades de emprego para trabalhadores do Cadastro Único – conta com 66% de mulheres nos cursos oferecidos. O programa tem a meta de oferecer um milhão de vagas de qualificação profissional para pessoas de baixa renda até 2014. No início de setembro, o Pronatec Brasil Sem Miséria bateu a marca de 700 mil matrículas. Entre alunas dos cursos, beneficiárias dos programas sociais do governo, a voz é uníssona: o Bolsa Família mudou a vida de muitas mulheres pobres no Brasil.