(O Estado de S. Paulo) Atenção donas de casa. O trabalho doméstico já mudou e vai mudar ainda mais.
Nos últimos cinco anos, houve uma redução de 16% no número de pessoas empregadas na categoria, apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de agosto (veja o gráfico). Nas grandes cidades, são cada vez mais comuns brigas entre vizinhos porque alguém arrebatou a faxineira, a babá ou a cozinheira da outra família.
Para Carlos Alberto Ramos, professor de Economia do Trabalho da Universidade de Brasília (Unb), a tendência de queda da oferta de mão de obra doméstica tem íntima relação com a atual situação de pleno emprego no Brasil: “Antes, era grande a disponibilidade de trabalhadores pouco qualificados. Pessoas que só encontravam oportunidade no trabalho doméstico vêm migrando para outras ocupações”, observa.
Pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) verificou que o perfil do empregado doméstico se alterou entre 1999 e 2009. Esse segmento está sendo ocupado por profissionais mais velhos e com maior nível de escolaridade. Os mais jovens estão passando para o comércio e para o setor de serviços.
A redução da oferta de mão de obra puxou os salários para cima. A aprovação da Emenda Constitucional das Domésticas, em março deste ano, garantiu 17 novos direitos à categoria que, na outra ponta, implica mais custos trabalhistas. Ramos adverte que o aumento de despesas no orçamento das famílias de classe média deve levar a uma mudança cultural nas relações desse tipo de emprego no Brasil. “Como já acontece na Europa e nos Estados Unidos, ficará mais barato equipar a casa com aparelhos eletrônicos e comprar comida semipronta do que contratar empregados domésticos”.
Mesmo antes da aprovação da Emenda das Domésticas, já operavam em São Paulo empresas que oferecem os mais diversos serviços caseiros, como faxina, lavanderia, reparos elétricos e hidráulicos. “É um mercado com forte potencial, porque reduz as responsabilidades com contratação de pessoal”, avalia Cláudio Dedecca, professor da Unicamp. Mas ele entende que a terceirização dos serviços domésticos ainda deve ficar restrita aos segmentos de alta e média renda.
Dedecca acrescenta que o processo de mudança nas relações de trabalho domiciliar no Brasil terá longa duração. “O emprego doméstico não vai desaparecer tão rapidamente na estrutura ocupacional brasileira. O mais provável é que cheguemos a 2030 ainda com muitos trabalhadores domésticos”.
Estudos mais recentes da Organização Internacional do Trabalho (OIT) verificaram que os países da América Latina e do Caribe concentravam 37% do contingente de 52,6 milhões de trabalhadores domésticos em todo o mundo em 2010 (veja, ainda, o Confira). O número equivale ao total de pessoas empregadas em países como o México e, se estivesse concentrado em um só país, formaria o décimo maior empregador de todo o mundo.
O gráfico mostra a configuração do emprego doméstico pelo mundo.
Menos carros. A administração do prefeito paulistano, Fernando Haddad, é a primeira do PT desfavorável ao automóvel para dar prioridade ao transporte coletivo. Até agora, pela história sindical do partido, empenhado em aumentar o emprego da indústria automobilística, os governos do PT, inclusive o da presidente Dilma, tudo fizeram para favorecer o setor. Se mantiver a redução de IPI, que vence em dezembro, para a compra de veículos, irá na contramão do que pretende Haddad.
Acesse o PDF: Procura-se doméstica, por Celso Ming (O Estado de S. Paulo – 12/10/2013)