(MPBA) Filhas de negros, as mulheres albinas com suas peles rosadas sofrem preconceito muito superior ao sofrido pelas mulheres de pele negra e clamam por políticas públicas que as tirem da invisibilidade e dê condições de cidadania a que têm direito,. Este fato é tema de estudo por parte da educadora social e formanda em Serviço Social, Maria José Felipe, apresentado hoje, dia 25, no Ministério Público estadual. Militante de movimento de mulheres e integrante de grupos como a ONG Nação Guerreira, Maria José partiu de um caso que lhe chegou em mãos e iniciou um projeto que hoje está aprofundando e se constituirá no trabalho final do curso, a despeito da dificuldade que vem encontrando por falta de levantamento sobre esse segmento social que não consta nem mesmo do IBGE como constatou.
Maria José debateu o tema durante o “Diálogo dos Saberes”, projeto que mensalmente acontece sob a coordenação do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem), tendo à frente a promotora de Justiça Márcia Teixeira. A ideia de aproximar a academia da sociedade civil abordando temas com troca de informações que têm possibilitado um maior entendimento na área do enfrentamento à violência do gênero é aplaudida pela palestrante, que pretende publicar sua pesquisa sob o título “A (in)visibilidade da mulher albina”. Presente ao debate sua supervisora do TCC, colegas e a incentivadora Mônica Kalile, superintendente da Superintendência de Política para Mulheres (SPM) do município de Salvador, onde Maria José estagiou e obteve respaldo necessário às pesquisas.
Vítimas de tortura e assassinato em alguns países africanos, as pessoas com albinismo muitas vezes sofrem discriminação em seu próprio seio familiar, notadamente quando são diferentes dos irmãos negros, havendo casos de pais serem violentos com as mães quando constatam que o recém-nascido tem a pele branca. Tendo atuado muitos anos na área da saúde, Márcia Teixeira lembra de alguns embates em defesa das pessoas com deficiência, inclusive no tocante à distribuição gratuita por parte do poder público, de protetores solares. Considerado cosmético, o protetor na verdade pode salvar vidas no entender de Maria José, pois o albinismo é caracterizado pela ausência da melanina, responsável pela cor da pessoa. Assim, ela defende um olhar mais atento para esse segmento que é muito suscetível a adquirir câncer.
Da mesma forma, entende que além de cuidados dermatológicos eficientes, os albinos exigem maior acompanhamento oftalmológico por causa da dificuldade em enxergar, o que o fazem com óculos adaptados que têm custo alto. Oriundos basicamente de camadas mais pobres, explica Maria José, os albinos também têm dificuldades para estudar. Na sala de aula precisam estar próximos das lousas, pois enxergam com dificuldade. Maria José quer discutir esses problemas na Câmara Municipal. Ela acha importante que a luta das mulheres albinas seja incorporada à luta das mulheres em geral, querendo aproveitar para incorporar o tema nas discussões referentes aos negros.
Apenas a Bahia e o Mato Grosso contam com associações ligadas aos albinos e, na da Bahia, a Apalba conta com 420 associados. Para Maria José, há a necessidade de levantamentos que venham ampliar o conhecimento sobre doenças comuns aos albinos e sobre hábitos necessários para prevenir sequelas. De posse de informações mais detalhadas, ela crê na realização de campanhas de esclarecimentos inclusive sobre o albinismo, que ainda é considerada uma doença contagiosa por muitas pessoas, sendo comum também a dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Acesse o PDF: A (in)visibilidade da mulher albina foi tema de debate no MP (MPBA, 25/10/2013)