(Agência de Notícias da Aids) Há pouco mais de 16 anos, Drica, então moradora da Cracolândia em São Paulo, trocou uma pequena quantidade de crack – suficiente para passar uma noite sobre os efeitos da droga – por sexo e, segundo ela, a certeza de que seria infectada pelo HIV.
“Eu sabia que iria contrair o vírus naquela relação. A pessoa que eu aceitei fazer sexo sem camisinha tinha aids e não escondia isso de ninguém. Ele mostrava pra gente que estava tomando o AZT. Mas a minha necessidade de usar a droga naquele momento era maior do que tudo”, conta.
A história da paulistana Drica, hoje com 42 anos, é um dos exemplos da vulnerabilidade feminina frente às DST/Aids. Além do uso descontrolado de drogas, milhares de brasileiras contraem HIV todos os anos porque não conseguem exigir o preservativo dos seus parceiros ou porque simplesmente confiam neles, que muitas vezes têm relações sexuais extraconjugais e às transmitem o vírus.
Em 1989, o Boletim Epidemiológico de Aids do Ministério da Saúde registrava um caso da doença nas mulheres para cada seis homens. Até 2011 a epidemia cresceu tanto entre elas, que essa comparação chegou a 1,7 caso em homens para uma mulher.
Acreditando que as próprias mulheres vivendo com HIV podem agir para evitar novos casos da doença na população feminina, Drica está ajudando na coordenação do “II Seminário Nacional de Liderança e Comunicação para Mulheres +”, que acontece entre os dias 14 e 17 de novembro em Atibaia, interior de São Paulo.
São esperadas no evento aproximadamente 100 mulheres vivendo e convivendo com HIV e aids para discutirem a qualidade dos serviços de prevenção e tratamento da doença oferecidos no País, o fortalecimento do controle social, a necessidade da criação de ações intersetoriais contra a epidemia e diferentes formas de gerir e monitorar os projetos no setor.
“Existe um plano nacional contra a feminização da epidemia, mas gestores de muitos municípios nunca nem ouviram falar desse plano. Nossa ideia é incentivar as mulheres que participarem do encontro a, quando voltarem aos seus municípios, pressionarem por ações nesse sentido”, explicou Drica.
Administradora da Associação Liberdade com Amor e Respeito à Vida (Associação Lar), Drica contou à Agência de Notícias da Aids que o evento em Atibaia terá um sentido especial para ela. Uma das suas filhas, que também vive com HIV, participará do encontro. “Eu tento puxar ela para o ativismo, mas ela não se interessa. Não conta pra quase ninguém que tem o vírus. Ela diz que só se lembra do HIV na hora de tomar medicamento”, relata.
A filha de Drica, atualmente com 16 anos, contraiu o vírus via transmissão vertical.
Segundo Drica, o pedido para não ter seu próprio nome revelado nesta reportagem é uma vontade da filha. “Infelizmente, fora dos ambientes em que se discute a aids, o preconceito ainda é muito grande. Opto sempre por poupar minha filha. Por isso prefiro que me identifiquem apenas com o meu apelido”, solicitou.
Drica conta que foi também graças à filha que está há 16 anos sem usar drogas ilícitas. “Cheguei ao fundo do posso, e o que mais me deu força para procurar ajuda foi a vontade de ver minha filha crescer”, lembra.
Companheiras de conversas e de passeios, como ir ao shopping e ao cinema, Drica e sua filha se preparam agora para o encontro de mulheres em Atibaia. Mesmo que ainda não seja como ativista pelos direitos das pessoas vivendo com HIV e aids, Drica afirma que está muito feliz por poder contar com a participação da filha. “Quem sabe mais pra frente ela muda de ideia e começa a seguir minha vocação de militante”, brinca.
O “II Seminário Nacional de Lideranças e Comunicação para Mulheres +”, organizado pela Associação LAR, tem apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. O evento ocorrerá no Hotel Gran Roca. Av. Walter Engracia de Oliveira, 229 – Estância Lynce – Atibaia, São Paulo.
Lucas Bonanno
DICAS DE ENTREVISTA
Associação LAR
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Gran Hotel Atibaia – Local do evento
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