(Folha de S.Paulo) FOI UMA PEÇA RARA o desempenho do mercado de trabalho em outubro, segundo a pesquisa mensal do IBGE. Menos gente trabalha, menos gente quer trabalho, em especial as mulheres.
O número de pessoas trabalhando caiu em relação a outubro do ano passado (a comparação mais adequada). O número de pessoas empregadas e à procura de emprego também caiu (“população economicamente ativa”).
Desde que os números podem ser comparados (2002), o número de pessoas empregadas caiu apenas outras duas vezes, no ano ruim de 2009, de recessão.
Nesse período, houve redução do número de homens empregados (em 12 ocasiões), mas a incorporação das mulheres ao mercado compensava a diferença. É muito rara a redução do
número de mulheres ocupadas (apenas duas ocasiões).
Em suma, como a taxa de desemprego é a proporção dos desempregados entre aqueles economicamente ativos, o desemprego diminuiu. Mas, ressalte-se, há menos gente trabalhando do que no ano passado.
Sim, o mercado de trabalho esfria faz algum tempo, muito lentamente. A média de crescimento da população ocupada (em 12 meses) cai desde 2010. Os motivos são mais ou menos óbvios ou conhecidos.
A economia cresce pouco desde 2011, a perspectiva de crescimento para 2014 é medíocre e os salários estão relativamente altos.
Além do mais, as empresas demitiram pouco no ano passado, até agora o pior dos piores do mandato de Dilma Rousseff. “Represaram” trabalhadores, dados os custos da demissão (trabalhistas) e de readmissão (treinamento).
Enfim, há menos gente para empregar e empregável. A população em idade de trabalhar cresce menos.
Setembro já havia sido quase de estagnação do número de pessoas empregadas (sempre na comparação com o mesmo mês de 2012), alta de só 0,1% (nos anos bons deste século, na maioria das vezes essa variação ficou na casa de 2% a 3%). Outubro foi de decréscimo, de 0,37%.
Entre as mulheres, a queda na ocupação foi de 0,66%. Entre os homens, de 0,13%.
Houve também um decréscimo acentuado no número de jovens (até 24 anos) empregados, embora essa seja uma tendência que venha de longe, de mais de cinco anos (e positiva: há menos crianças trabalhando, há mais jovens na escola). A faixa de idade em que o emprego mais cresce é a da turma de mais de 50 anos, pelo menos desde 2008.
Em suma, o tombo grande e raro no número de pessoas empregadas e querendo trabalho deveu-se majoritariamente a mulheres, provavelmente mulheres entre 18 e 24 anos. Pode ser um ponto fora da curva, uma ocorrência atípica. Um mês apenas é pouco para dizer.
No mais, no conjunto da obra, a pesquisa mensal de emprego do IBGE indica outros sinais de esfriamento. A massa salarial, que nos anos bons recentes cresceu a 4% ou 5% ao ano, agora cresce a 1,4% (a massa salarial é o total dos salários pagos). O salário médio cresce 1,8% acima da inflação.
Ainda não há sinal de aumento significativo de desemprego. Os custos salariais para as empresas ainda crescem, mas mais devagar. A massa de salários crescendo mais devagar, porém, não deve animar a economia de 2014.
Vinicius Torres Freire está na Folha desde 1991. Foi secretário de Redação, editor de ‘Dinheiro’, ‘Opinião’, ‘Ciência’, ‘Educação’ e correspondente em Paris. Em sua coluna, aborda temas políticos e econômicos. Escreve de terça a sexta e aos domingos.
Acesse o PDF: O que querem as mulheres? (Folha de S.Paulo, 22/11/2013)