(Luciana Araújo / Agência Patrícia Galvão) O relatório “Lacuna Digital de Gênero: Reflexo da Desigualdade Social”, divulgado pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe, da ONU) na preparação da 12ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe, apresenta um novo aspecto dos desafios ainda postos para as mulheres com vistas a uma existência em condições iguais às garantidas pela sociedade global aos homens. O documento aponta que, embora o acesso de homens e mulheres a computadores e conexões de internet no ambiente doméstico seja equivalente nos países da América Latina, as mulheres ficam em desvantagem em todos os países da região no que diz respeito ao uso das novas tecnologias.
Em todos os 10 países analisados, uma porcentagem menor de mulheres em relação aos homens declararam usar a internet em qualquer lugar (casa, trabalho, estabelecimentos educacionais, centros comunitários etc.). A desigualdade entre os gêneros se expressa também nas formas de aceitar e lidar com equipamentos de informática e as novas tecnologias, de acordo com o relatório. Brasil, México e Uruguai foram os únicos países da região onde a lacuna digital entre os sexos se reduziu na última década.
A Cepal aponta que é necessário superar essa forma de exclusão social para construir uma sociedade efetivamente “conectada”. A comissão regional da ONU também destaca os ganhos de produtividade, maior eficiência no uso do tempo e na busca por emprego, e a redução de gastos com um maior acesso a informações em áreas como saúde e educação. Além disso, o documento salienta que a formação das mulheres para o uso das novas tecnologias se reflete também em outros aspectos importantes da vida, como o combate à violência sexista.
Como medidas para efetivar políticas públicas de enfrentamento à exclusão digital de gênero, a Cepal propõe o incentivo a ações de formação e capacitação para o uso das tecnologias de informação, o desenvolvimento de programas de inclusão digital de mulheres, o desenvolvimento de uma “cidadania digital” (que implica também educá-las para enfrentar o risco cotidiano da violência sexista ou contra crianças e adolescentes na web). Para que tais ações dêem certo, a Comissão destaca que é preciso “incorporar a perspectiva de gênero nas políticas de acesso e uso às tecnologias de informação como um eixo transversal, para que estas considerem as desigualdades e necessidades diferentes de mulheres e homens na sociedade da informação”.
Custos socioeconômicos – Outro estudo, realizado pela Comissão da ONU sobre Banda Larga para o Desenvolvimento Digital em 160 países, confirma o cenário desigual para as mulheres no acesso à rede mundial. A União Internacional de Telecomunicações divulgou em setembro estimativa de que existam 200 milhões menos mulheres online no mundo que homens. Segundo o documento, essa diferença pode chegar a 350 milhões nos próximos três anos se não forem tomadas medidas por parte das nações. Em relação à propriedade de aparelhos de telefonia móvel, as mulheres também são 21% a menos. A diferença no acesso se acentua nos países em desenvolvimento.
Para mensurar os efeitos da exclusão digital de gênero, a pesquisa destaca ainda que, nos países em desenvolvimento, cada acréscimo de 10% no acesso à banda larga, por exemplo, reflete em um crescimento de 1,38% do PIB. E exemplifica: o ingresso de 600 milhões de mulheres e meninas jovens à rede mundial poderia elevar o PIB mundial em cerca de 18 bilhões de dólares.
Aplicativo digital da ONU auxilia combate à violência de gênero no Rio de Janeiro
No dia 8 de março deste ano, a ONU Mulheres, a Unicef e a ONU-Habitat lançaram o aplicativo “Rede de enfrentamento à violência contra a mulher – Rio de Janeiro”, para uso em computadores e celulares, que permite o acesso a informações e serviços de apoio às vítimas de violência sexual. O projeto piloto do mecanismo foi colocado em funcionamento em comunidades pobres do Rio de Janeiro. A área de lançamento do projeto foi definida em função do aumento de 23,8% nos registros de estupro entre 2011 e 2012. A ferramenta permite que qualquer pessoa, por meio de um computador ou smartphone, obtenha informações sobre direitos e locais de atendimento jurídico, social, médico e psicológico próximos à vítima, números de abusos online, dicas de como se proteger, orientações sobre como formalizar denúncias.
O mecanismo mostra a importância da inclusão digital das mulheres em diversas esferas da vida.
Para mais informações sobre o tema, leia também a íntegra do documento “Mulheres na Economia Digital: Superar o limiar da desigualdade”, apresentado à 12ª Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe.