(Folha de S.Paulo) Enquanto alguns jornalistas da China tentam romper limites da censura, a maioria é doutrinada para promovê-la, como agentes de propaganda do Estado.
Em 2013, na véspera de sua visita à China, o vice-presidente Michel Temer chamou jornalistas chineses baseados no Brasil para uma entrevista coletiva.
Uma das perguntas parecia uma cobrança da liderança em Pequim: o que o governo faria para reduzir a cobertura negativa sobre a China na mídia brasileira? Para surpresa do repórter, Temer respondeu que nada poderia fazer.
Desde 1949, quando os comunistas assumiram, o governo usa o jornalismo na China para propagar a linha do PC e, nos moldes de agências de inteligência, coletar informações.
Além do trabalho tradicional, os repórteres têm uma função menos visível, que é a de preparar relatórios secretos para os líderes, prática conhecida como “neican” (uso interno).
O sistema é baseado na agência oficial Xinhua, mas jornalistas de todos os veículos estatais são encorajados a fazer relatórios.
“A agência desempenha funções que geralmente seriam de serviços de espionagem, como a CIA”, explica o jornalista Doug Young no livro “The Party Line”. Não é surpresa, diz ele, que o governo até hoje veja os correspondentes estrangeiros na China com desconfiança, como se também fossem espiões em meio expediente. (MN)
Acesse o PDF: Mídia estatal age como serviço de inteligência (Folha de S.Paulo – 26/01/2014)