03/02/2014 – Após ataque ao direito ao aborto, França tem ato contra os direitos dos homossexuais

03 de fevereiro, 2014

(Correio Braziliense) Milhares de manifestantes se reuniram em Paris e em Lyon em um protesto contra a legalização do casamento gay e outras propostas favoráveis aos direitos dos homossexuais na França. Em mais uma demonstração do fortalecimento do conservadorismo no país, as marchas organizadas pelo movimento Manif Pour Tous (Manifestação Para Todos, em tradução livre) uniram católicos tradicionalistas e muçulmanos ultraconservadores que acusaram o presidente François Hollande de ter “fobia de família”. “Hollande, não queremos a sua lei!”, gritava a multidão.

Os organizadores estimaram que o número de participantes chegou a 500 mil em Paris, mas a polícia da capital calculou cerca de 80 mil pessoas no protesto. Além de se oporem ao casamento de pessoas do mesmo sexo, legalizado em abril do ano passado, os conservadores tentam barrar projetos de reprodução assistida e de acesso a barrigas de aluguel e à fertilização in vitro para casais homossexuais. O governo nega as especulações de que pretende avançar na questão, mas a ala conservadora parece não acreditar. “Queremos dar uma advertência ao governo. Todas as crianças precisam de um pai e de uma mãe”, afirmou Ludovine de la Rochère, uma das líderes do movimento, à rádio França Internacional.

Rumores sobre a suposta implantação de um programa educacional conhecido como “ABC da igualdade” nas escolas primárias francesas também geram indignação entre os conservadores. O programa, que teria o objetivo de ensinar as crianças sobre a teoria do gênero e lutar contra os estereótipos de meninas e meninos na escola, é interpretado como uma tentativa de impor a negação da diferença entre os sexos e promover a homossexualidade. Os opositores dizem que, com o projeto, crianças seriam incentivadas a rejeitar suas próprias identidades sexuais e a se masturbarem. Em entrevista à agência France-Presse, Abdel e Said Ahmet, dois pais de família argelinos, consideraram que “é a família que deve ser responsável pela educação sexual, e não o governo”. Em 19 de janeiro, conservadores também promoveram uma Marcha pela Vida em oposição ao aborto.

Reforma social

O Manif Pour Tous e a onda de manifestações conservadoras ganharam fôlego durante os intensos debates que precederam a aprovação do casamento gay no país. O assunto é considerado a mais importante reforma social francesa desde a abolição da pena de morte, em 1981. Nos meses que antecederam à legalização do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo, milhares de simpatizantes dos direitos homossexuais tomaram as ruas de diversas cidades francesas para demonstrar apoio à aprovação do projeto. O primeiro casamento gay no país foi celebrado em 29 de maio do ano passado, em Montpellier, em paralelo a uma onda de comemorações. Naquele mês, uma pesquisa mostrava que 53% da população eram favoráveis à nova legislação, e 47%, contra.

Para o ministro do Interior da França, Manuel Valls, os contrários à lei tentam criar uma versão francesa do Tea Party, ala extremamente conservadora do Partido Republicano dos Estados Unidos. O ministro afirmou que não vai tolerar manifestações violentas e pediu que a “direita republicana” se “desvencilhe claramente” do movimento. Ele denunciou o que chamou de “uma onda dos anti – antielites, anti-Estado, anti-impostos, anti-Parlamento, antijornalistas -“, e alertou para o risco de crescimento do “antissemitismo, do racismo e da homofobia“. “Todos, simplesmente, antirrepublicanos”, definiu.

Logo no início da manifestação na capital, a polícia deteve 12 militantes de extrema direita que pretendiam se juntar à passeata. A mobilização dos conservadores acontece uma semana após violentos protestos contra a administração de Hollande, em que mais de 200 pessoas foram detidas e 19 policiais ficaram feridos.

“Queremos dar uma advertência ao governo. Todas as crianças precisam de um pai e de uma mãe”

Ludovine de la Rochère, uma das líderes do movimento

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