(G1 Paraná) Pela primeira vez nos últimos 20 anos, Curitiba zerou o número de crianças nascidas com o vírus HIV, causador da Aids. Segundo a prefeitura, nenhum novo caso foi registrado na cidade ao longo de 2013.
Dados da Secretaria de Saúde de 1994 a 2013 mostraram oscilações na quantidade de casos, com índices altos em 1996 e 1998, seguido de queda e estabilidade na quantidade de infecções a partir de 2001 – até zerar no ano passado.
A redução das infecções se deve, em grande parte, a um maior acompanhamento médico e tratamento adequado das mães grávidas com o medicamento antirretroviral, o que permitiu o nascimento da criança com carga viral negativa, ou seja, livre da doença.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, a transmissão do vírus de mãe para filho (denominada vertical) caiu 35% entre 2003 e 2012. A taxa de detecção no país há dois anos era de 3,4 para cada 100 mil habitantes. Em 2003, era de 5,1 para cada 100 mil habitantes.
Tratamento com antirretroviral na gravidez
De acordo com o médico infectologista José Luiz de Andrade Neto, professor dos cursos de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e da Universidade Federal do Paraná, para que a mulher portadora de HIV tenha um filho livre do vírus é preciso recorrer à inseminação artificial ou fertilização in vitro — pela qual o óvulo é fertilizado fora do organismo da mulher antes de ser implantado no útero.
No caso de ambos serem soropositivos, é recomendada uma avaliação mais complexa para saber a possibilidade da gravidez, segundo o especialista. “É importante saber da infecção e tratá-la antes da gravidez, já que é alto o risco o bebê nascer com o vírus. Quanto mais tarde você começa com o medicamento [antirretroviral], maior o risco da criança ter o vírus”, explicou.
O médico, que também é consultor para Aids do Ministério da Saúde, disse que estudos realizados já apontaram a possibilidade da mulher com Aids praticamente zerar o risco de transmitir o vírus para o filho. Em contrapartida, quando as gestações não são assistidas, 30% das crianças nascem com a doença.
O especialista destaca a importância do pré-natal e a realização de exames para detectar não só o vírus da Aids, mas outras doenças sexualmente transmissíveis.
Se a mulher descobrir o HIV após constatar a gravidez, ela deve iniciar o tratamento imediatamente. A mãe soropositiva não poderá amamentar o filho no seio, já que existe a possibilidade de contágio pelo leite materno. Todo o tratamento para a Aids pode ser realizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Falta de diagnóstico na gravidez
A empregada doméstica M.D., de 49 anos, descobriu só ao longo de sua terceira gravidez que era portadora do vírus HIV. Moradora da capital paranaense, seus dois primeiros filhos nasceram com Aids por ela não ter sido diagnosticada com a doença nas gestações.
Ela lembra com angústia quando descobriu ser soropositiva quando aguardava o nascimento da filha caçula. “Me desesperei quando perguntei para a médica se poderia repetir o exame e se tinha chance de dar negativo. Ela disse que não tinha”, disse a mulher, que preferiu não se identificar.
A partir daquele dia, a doméstica iniciou o tratamento e, como ela diz, salvou a vida da filha mais nova. “Ela é muito inteligente e me ajuda aqui em casa”. Os filhos mais velhos também foram diagnosticados e já fazem o tratamento, assim como o pai dos filhos, com quem ela é casada até hoje.
Por conta das dificuldades que enfrentou, M.D. ajudou a fundar em Curitiba uma unidade da organização não-governamental Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids, que ajuda portadores do vírus e faz diversos trabalhos de conscientização pela cidade.
Sobre a gestação de mulheres com Aids, a curitibana avalia que com a evolução da medicina e a disseminação das informações é possível uma soropositiva ter filhos sem o vírus. “Não tenham medo”, recomenda.
Acesse o PDF: Pela 1ª vez, Curitiba zera número de crianças nascidas com o vírus HIV (G1 Paraná – 11/02/2014)