(Jornal do Commercio) Sete em cada dez mulheres, em todo o mundo (o que representa cerca de um bilhão de pessoas), vão ser estupradas ou espancadas ao longo da vida. Esta é a estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), que classifica o problema como “pandemia”. Um bilhão de homens e mulheres vão se manifestar contra essa violência por meio da dança, na próxima sexta-feira (14). Esta é a meta do movimento Um Bilhão Que Se Ergue (One Billion Rising), que procura chamar a atenção para as agressões e realizará ações previamente organizadas (flash mobs) em mais de 200 países.
“Quem quiser participar, só precisa comparecer na sexta, no Marco Zero, às 19h, de preferência usando roupas nas cores preto, rosa e vermelho. Não precisa ter medo da coreografia”, convida a secretária Ju Dolores, que integra o movimento Marcha das Vadias e é uma das coordenadoras do evento no Recife, que congrega várias organizações. “Os homens podem e devem vir também. Para mudar, é preciso ter o apoio daqueles que, em geral, cometem a violência. Acho que não deve ser legal ser homem dentro de uma cultura que faz deles monstros, e por isso cada homem deve entrar na batalha contra essa realidade”, avalia. “É um momento incrível, com uma energia imensa”.
Um Bilhão Que Se Ergue é uma ação que existe desde 2013, e foi iniciada pela organização VDAY, que surgiu nos Estados Unidos há 16 anos e realiza protestos e apresentações no Dia dos Namorados americano (Valentine’s Day), com a finalidade de prevenir a violência contra mulheres e meninas.
A fundadora da VDAY, Eve Ensler, coordena um grupo internacional de ativistas e é a autora de uma peça de sucesso mundial, Os monólogos da vagina (produzida em mais de 150 países a partir de depoimentos verídicos de mais de 200 mulheres de todo o mundo, refletindo sobre a sexualidade feminina).
O evento, porém, não é responsabilidade exclusiva da VDAY, que descreve a campanha como um movimento de massa liderado por centenas de organizações de todo o mundo, as quais preparam seus eventos individual e espontaneamente. A dança, nesse contexto, é utilizada como um instrumento catalisador: serve para unir, congregar, fazer com que o mesmo corpo que sofre violência possa se mostrar, livre.
“Neste ano, vamos nos concentrar na questão da justiça para todas as sobreviventes de violência de gênero, e tentar acabar com a impunidade que prevalece a nível mundial”, declara a diretora executiva do VDAY, Susan Celia Swan, que falou à reportagem do JC por email.
“Os motivos que fazem este movimento relevante é que, assim, conseguimos chamar a atenção das pessoas sobre a importância da prevenção da violência e da proteção das sobreviventes”, diz, por sua vez, a coordenadora regional para as Américas Central e do Sul, Marsha Calderón. “O especial e único da campanha é que não vitimizamos as mulheres, e sim celebramos suas vidas. Pessoalmente, como sobrevivente de violência, é uma alegria poder levar esta mensagem a outras mulheres, para que se animem a romper o silêncio”, afirma.
EVENTOS NO BRASIL – O Brasil, mesmo possuindo uma legislação avançada sobre a violência contra a mulher, ainda tem um dos índices mais altos do mundo. Frente a isso, na sexta-feira haverá flash mobs em diversas cidades, como São Paulo, Brasília, Foz do Iguaçu e Belo Horizonte, entre outras. Para contatar a organização recifense, é só procurar no Facebook a página Um Bilhão Que Se Ergue Por Justiça – Recife/PE”.
“Não há controle, nenhuma coordenação nacional, e cada cidade define o que irá fazer”, explica Ju Dolores. “É um evento predominantemente jovem, com forte apelo dentro das redes sociais. No futuro queremos ampliar a inclusão, até mesmo criar uma música local, cantada em português”, planeja ela, acrescentando que “esse tipo de movimento é uma porta, uma oportunidade para se obter informações e repensar a realidade”.
Acesse o PDF: Um bilhão de pessoas dançando contra a violência em 200 países (Jornal do Commercio – 08/02/2014)