(O Globo, 04/05/2014) Chinesas têm estudado cada vez mais e começam a optar por focar na carreira
Uma propaganda divulgada pelo governo da China aconselha as mulheres chineses a não serem seletivas na hora de escolher um parceiro e diz para elas se casarem cedo. “Com a idade, as mulheres valem menos e menos”, diz um artigo publicado pela agência oficial do governo Xinhua. Em outro anúncio, o governo sugere para elas pararem de sonhar com o príncipe encantado: “o homem perfeito existe? Talvez sim, mas por que ele casaria com você?”.
A questão é por que os líderes chineses gostariam de enviar uma geração de mulheres para casa ao mesmo tempo em que Japão e Coreia do Sul tentar aumentar o potencial econômico da força de trabalho feminina. No Fórum Econômico Mundial, em janeiro, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe destacou que as mulheres poderiam alavancar o PIB do país em 16%. Outros estudos sugerem que a restrição das oportunidades de emprego para as mulheres gera um custo de US$ 46 bilhões por ano para a Ásia.
Para a socióloga Leta Hong Fincher, a propaganda é um reflexo da determinação do governo chinês em controlar as mulheres e a sociedade através da economia e da cultura. No livro “Mulheres deixadas de lado”, Fincher se refere ao termo pejorativo usado pelo governo chinês para descrever as mulheres solteiras com quase 30 anos.
As mulheres asiáticas conquistaram um nível de educação maior e mais oportunidades econômicas, e também começaram a adiar o casamento. Essa tendência ainda não chegou à China, mas à medida que as chinesas estudam mais, elas também escolhem focar na carreira. Segundo Fincher, isso mina as metas da população chinesa e aumenta o risco de instabilidade e insegurança no país.
A estimativa da socióloga é que a campanha será efetiva porque as chinesas têm medo de serem “deixadas de lado”, e por isso recorrem a casamentos até com estranhos. Fincher ainda alerta para o fato de a campanha incentivar a mulher a se casar cedo com um homem que ela não conhece, o que pode aumentar as chances de violência doméstica.
As uniões facilitam a transferência da riqueza da mulher para o homem. Na China, a mulher contribui, em média, com 70 % do financiamento da casa própria, mas o nome delas aparece somente em 30% dos contratos, segundo estudos da socióloga Fincher.
— Muitas mulheres até querem seus nomes nos contratos. Mas, no fim, elas aceitam um acordo desigual porque querem se casar — disse a socióloga.
Mas, os tempos estão mudando, queira o governo chinês ou não.
— Não são só as mulheres que querem mais liberdade e independência, há alguns homens que também estão em busca desses objetivos — disse Fincher.
Acesse o PDF: China aconselha mulheres a se casarem cedo (O Globo, 04/05/2014)