(Portal da Seppir, 22/05/2014) Debate ocorreu em seminário promovido pelas Secretarias de Igualdade Racial e de Políticas para as Mulheres no âmbito do Prêmio Lélia Gonzalez
‘O Feminismo Negro e o Pensamento de Lélia Gonzalez’. Esse foi o tema do seminário que reuniu hoje (22) mais de cem mulheres de todas as regiões do país, em Brasília. Além da entrega do Prêmio Lélia Gonzalez às treze organizações contempladas com a iniciativa, a atividade serviu para subsidiar a execução dos projetos premiados.
Organizado com o objetivo de difundir e debater o feminismo negro a partir da contribuição teórica da ativista e antropóloga Lélia Gonzalez, o seminário contou com a presença do filho da homenageada, Rubens Rufino. Bastante emocionado na abertura da solenidade, ele declarou a alegria de participar da atividade e disse que considerava importante a propagação do legado de sua mãe para as novas gerações pelo significa que ele tem na luta contra o racismo e o sexismo no Brasil.
“Prestar uma homenagem não é um ato trivial, passageiro. Ao se homenagear alguém que se admira, que se respeita, cria-se determinadas obrigações. Portanto, desejo que esse momento sirva para nos reencontrarmos com Lélia e trazer para cada uma de nós aquilo que ela teve de melhor e que determinou tanta coisa no país”, afirmou a ministra da SEPPIR – Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, também na solenidade de abertura.
“Essa iniciativa não é a única inspirada nesses 20 anos desde que Lélia nos deixou. Existem outras, entre elas um congresso que está sendo organizado pelas feministas negras com apoio da SEPPIR, e que deverá acontecer até o final desse ano. O que estamos vivendo aqui, portanto, é só uma pequena abertura de um ano que será marcado por, pelo menos, mais duas grandes atividades inspiradas nesse legado de Lélia Gonzalez”, antecipou a ministra.
De acordo com a secretária de Políticas de Ações Afirmativas da SEPPIR, Angela Nascimento, o ‘Prêmio Lélia Gonzalez – Protagonismo de Organizações de Mulheres Negras’ é o símbolo do que a SEPPIR quer demarcar como compromisso com as mulheres negras. “E é através da imagem, do legado, do pensamento de Lélia Gonzalez, que queremos impulsionar ainda mais o lugar das mulheres negras na política de promoção da igualdade racial, através do enfrentamento ao racismo e com ações afirmativas”, afirmou Angela.
O Prêmio
Lançado em dezembro do ano passado, pela SEPPIR e pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), o prêmio tem o objetivo de reconhecer e incentivar as organizações de mulheres negras no país, possibilitando o seu contínuo fortalecimento como sujeitos de direitos. Nessa primeira edição, foram agraciadas Treze instituições que atuam em âmbitos nacional, estadual e municipal, sediadas nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Amapá.
A secretária de Articulação Institucional e Ações Temáticas da SPM, Vera Lúcia Lemos Soares, representou a ministra Eleonora Meniccuci na solenidade de abertura. Ela resgatou uma oficina do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR, realizada em 2012, para dizer que foi naquele momento que a SPM incorporou a ideia de parceria com a SEPPIR para implementar uma ação de fortalecimento das mulheres negras, que resultou no prêmio.
“Foi com Lélia Gonzalez, participando do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, que aprendi a ouvir o que significava dizer que o nosso feminismo era muito branco e não incorporava a dimensão racial. É muito emocionante estar aqui hoje, revisitando esse pensamento e tudo que aprendemos com a Lélia”, explicou ainda Vera Soares.
A ministra Luiza Bairros lembrou conquistas recentes para falar sobre Lélia Gonzalez. “Não tenho dúvida de que a porta que abrimos nesse momento é larguíssima e por ela podem entrar muitos jovens negros e negras de todo o país”, afirmou a chefe da SEPPIR, ao falar sobre a aprovação nesta quarta, pelo Senado, da reserva de vagas para negros nos concursos públicos federais. “Essas cotas não se referem apenas aos concursos na administra direta, os ministérios, mas também abre a mesma possibilidade para todas as fundações federais, as autarquias, as empresas públicas que detêm as carreiras e as posições mais valorizadas no serviço público”, explicou.
“É preciso dizermos para a população negra que esse processo está acontecendo por nossa causa, como resultado da nossa luta e pensando nas possibilidades, numa projeção de um futuro diferente, na abertura de novas oportunidades para a realização dos nossos talentos. Quando assim fazemos, estamos honrando o legado de Lélia, talvez de uma forma que ela nem tenha imaginado que fosse possível na sociedade brasileira”, afirmou ainda Luiza Bairros.
Lélia Gonzalez – (1935-1994), foi antropóloga e ativista e é referência dos movimentos negros e de mulheres. Seu legado é fonte permanente de inspiração para diversas ações de enfrentamento ao racismo e ao sexismo, bem como para iniciativas que visam ampliar a participação política das mulheres, especialmente das mulheres negras.