(O Globo, 31/05/2014) A Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic) 2013 do IBGE mostra outros dados alarmantes sobre as estruturas voltadas para as políticas de gênero: sete anos depois da aprovação da Lei Maria da Penha, apenas 2,5% dos municípios brasileiros tinham casas-abrigo para mulheres em situação de violência. A legislação prevê a criação dos espaços.
A Munic aponta que essas estruturas são quase inexistentes nas cidades com menos de 20 mil habitantes, que correspondem a 70% do total. De 3.852 com este perfil, apenas em 16 as mulheres podem contar com os espaços. Nos municípios com mais de 500 mil habitantes o cenário é melhor: 61,5% tinham unidades.
No Rio, há dois abrigos para mulheres em situação de violência. A Casa Viva Mulher Cora Coralina, administrada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres municipal, tem 40 vagas. E a Casa Abrigo–lar da Mulher, da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres do estado, oferece outras 80. Por segurança, ambas ficam em endereços sigilosos.
Y., de 33 anos, passa pela segunda vez pela Cora Coralina. Na primeira, ano passado, acompanhava a sobrinha de 17 anos. Seu então marido violentou sexualmente a menor. Este ano, Y. foi espancada por um namorado com quem vivia havia três meses.
— Cheguei ao abrigo em abril, com o lado esquerdo do rosto deformado. Ele usava cocaína e me batia — conta. — Voltar me fez sentir que tinha sofrido a pior humilhação do mundo.
Z., de 32 anos, também passou pela casa municipal, onde morou por dois meses, com os filhos de 12 e 14 anos. Ela viveu com o agressor durante 15 anos e, ao decidir denunciá-lo, procurou ajuda em um posto de saúde, com medo de levantar suspeitas.
— Eu não sabia o que fazer. Acho que falta informação para quem passa por isso — diz. — Desde que saí, comecei a trabalhar, o que ele nunca deixou.
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