Racismo na Copa é em menor número que esperado, diz ministra

20 de junho, 2014

(Portal Terra, 20/06/2014) A ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, disse que as manifestações diretas de racismo dentro dos estádios brasileiros durante a Copa do Mundo têm acontecido em menor número do que o esperado. Para ela, isso é resultado das campanhas de igualdade racial que o governo e também entidades organizadoras do Mundial têm realizado.

“Considerando a forma e a frequência com que essas manifestações estavam acontecendo no futebol até o mês passado, essas manifestações diretas, dentro do campo, são em número menor do que a gente poderia esperar. Isso é bom, é resultado da nossa campanha”, afirmou a ministra. De acordo ela, desde o final de 2013 tem havido um aumento no número de denúncias de racismo e boa parte delas se refere a casos ocorridos no meio do futebol.

Segundo a ministra, o governo federal trabalha na criação de um Disque-Racismo, para receber denúncias desse tipo, por telefone pelo número 138. Não há, no entanto, previsão de quando esse serviço estará disponível para a população, já que ainda é preciso formatar melhor o projeto, escolher uma empresa para operá-lo e treinar pessoal. A ideia é que o disque encaminhe os casos para os órgãos de investigação.

Luiza Barros disse que o governo federal ainda não sabe quantificar quantos casos de racismo já aconteceram durante a Copa. Ao comentar a prisão de argentinos acusados de gritarem insultos racistas contra brasileiros no Maracanã, no jogo Argentina x Bósnia, e de espanhóis que estão insultando brasileiros pelas redes sociais, a ministra disse que o racismo não é um fenômeno localizado. ”Não é apenas no Brasil, não estamos vivendo esse movimento sozinhos. Em diferentes sociedades há diferentes alvos. Temos visto isso na Europa, não é necessariamente com afrodescendentes. Vemos isso acontecer com grupos migrantes também”, afirmou.

Segundo ela, os casos de racismo na internet têm sido encaminhados para a Polícia Federal, para rastreamento da autoria dos acusados. Além disso, está havendo solicitação para que provedores removam os comentários e posts racistas.

Questionada sobre se as campanhas contra o racismo na Copa são insuficientes, já que os casos continuam acontecendo, a ministra disse que o problema é complexo. “Você não trata uma questão tão enraizada na mentalidade das pessoas apenas com as campanhas. É preciso que, paralelamente a isso, você também tenha outros mecanismos funcionando”, disse. Para a ministra, é preciso fazer valer o uso das leis contra o racismo no país.

“Quando trabalhamos para criar o Disque Igualdade Racial, queremos criar um volume de denúncias para forçar a Justiça a agir diante das nossas leis e acordos internacionais que assinamos”. Segundo a ministra, há um registro muito baixo de admissibilidade de crimes de racismo pelo Poder Judiciário. “É necessário que a Justiça no Brasil entenda que existem leis que devem ser usadas”, afirmou ela.

A ministra espera que até o final da Copa as pessoas percebam mais a diversidade como valor positivo. Ela pediu que a imprensa reveja a maneira como escolhe “imagens bonitas” da Copa. “Precisamos que as imagens projetadas das partidas de futebol e dos torcedores das arenas sejam capazes de dar conta da diversidade das pessoas que estão aqui. É preciso deixar de achar que a imagem de mulheres e crianças brancas sejam as melhores. As crianças que acompanham os torcedores no início dos jogos não podem ser majoritariamente brancas. Temos 100 milhões de negros no Brasil. Tem que haver um esforço do nosso olhar valorizador”, disse ela.

Em entrevista a jornalistas no Centro Aberto de Mídia, o ex-árbitro Marcio Chagas contou que desistiu da profissão depois de sofrer ato de racismo esse ano no Rio Grande do Sul. Atualmente comentarista esportivo, ele disse que muitos torcedores se aproveitam do anonimato no meio da multidão para praticarem atos racistas. “Quando se está em multidão, muitos gatinhos se transformam em leão. Em torcidas organizadas, as pessoas estão escondidas, se travestem de torcedor para ficarem escondidas”, disse Chagas.

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