(O Globo, 28/06/2014) Enquanto a luta LGBT avança em alguns países, em outros há um retrocesso. Em 2013, a Rússia aprovou uma lei altamente descriminatória contra a “propaganda homossexual”. Já a Índia, também ano passado, reverteu uma decisão do Supremo Tribunal de Nova Délhi e voltou a criminalizar as relações entre pessoas do mesmo sexo. Uma onda de legislações duras também tem tomado países africanos, incluindo Nigéria e Uganda.
Além da violação de direitos humanos, uma das maiores preocupações da Organização das Nações Unidas (ONU) é com com consequências negativas dessas leis para a saúde pública. Em um estudo publicado esta semana na revista “PLOS Medicine”, o médico Chris Beyrer, da Universidade Johns Hopkins, ressalta que o “clima de medo” gerado pelo apoio dos Estados à discriminação e a garantia de impunidade aos que agridem homossexuais forçam as pessoas a se esconder e se afastar de locais como clínicas de tratamento, onde poderiam ser ridicularizadas ou atacadas.
— Estamos coletando dados que mostram que, depois que essas leis foram implementadas, as pessoas pararam de ir à centros de tratamento para portadores de HIV e de fazer testes — diz Beyrer em entrevista por e-mail. — Isso pode certamente levar a um agravamento da epidemia global de Aids dentro da comunidade gay.
PROBLEMA TAMBÉM NO BRASIL
Segundo a diretora do Unaids (o programa da ONU sobre Aids) no Brasil, Georgiana Braga, 150 mil pessoas vivem hoje no país com HIV e não sabem disso. O motivo do abismo, para ela, é o preconceito.
— O Sistema Único de Saúde oferece o teste gratuitamente. Se as pessoas não o fazem, é por medo — opina Georgiana, para quem a discriminação provoca uma reação em cadeia desastrosa: — Se há a discriminação, você não consegue chegar às pessoas. Sem essa aproximação, não há teste nem tratamento. Assim, a doença se espalha.
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