(FNDC, 02/07/2014) Um antigo estorvo recai sobre o cineasta independente brasileiro: após a conclusão de um filme, como tirá-lo da obscuridade e levá-lo às salas de exibição para ser visto? Um projeto pioneiro quer encontrar a solução para essa dificuldade. O canal O Cubo nasceu há cerca de um ano com o objetivo de ser uma plataforma de valorização e distribuição do conteúdo audiovisual alternativo – que dificilmente ganharia visibilidade frente às produções gigantescas que entram em circuito. Funciona assim: o cineasta envia seu filme ao Cubo, que passa a cuidar de sua divulgação – na web mesmo.
– A internet é o futuro, ou melhor, é o presente – avisa o cineasta e artista plástico Fabiano Cafure, que, ao lado de Thiago Fraga, do Instituto Kreatori, começou a desenvolver a ideia do canal há cerca de cinco anos.
Segundo Cafure, os filmes podem ser enviados (gratuitamente) ao canal sem grandes barreiras. Eles passam por uma curadoria, mas a única exigência realmente imprescindível é que o autor licencie a distribuição de sua obra sob uma das condições do creative commons – isso significa que o curta ou longa-metragem poderá ser visto, baixado e compartilhado livremente na internet (desde que os créditos sejam devidamente dados). O trabalho sequer precisa ser novo (“Os festivais exigem ineditismo e isso dificulta a vida do produtor independente”, opina). Mas, então, o que o cineasta ganha com toda essa história? Num primeiro momento, nada. A longo prazo, quem sabe, tudo.
– Ele terá que investir nele mesmo. O Cubo ajuda a mostrar os seus primeiros trabalhos. Serve como uma janela. Nosso público-alvo é todo mundo. Possíveis contratantes vão estar de olho na sua direção, na qualidade do seu diretor de fotografia e na interpretação do seu ator. O retorno é o prestígio de ser visto – explica Cafure, que se usa como um exemplo bem sucedido: sua primeira incursão cinematográfica, o longa-metragem “Eu te amo Renato” (2012), teve mais de 1,5 milhão de visualizações e lhe abriu portas profissionais.
O catálogo do Cubo conta com pelo menos 50 vídeos, espalhados por cinco categorias: entretenimento, ficção, documentário, animação e vídeo-arte. Cafure diz que não tem a intenção de declarar guerra contra as tradicionais salas de projeção, até porque essa seria uma batalha imediatamente perdida.
– A indústria de cinema é forte e não vai deixar de existir. O que fazemos não é para concorrer com o mercado. É um mundo à parte, uma quebra de paradigmas – diz. – O produtor independente muitas vezes acha que seu filme vai para o cinema, mas ele não tem dinheiro. A maioria das produções termina na gaveta, sendo mostradas apenas para um círculo de amigos. O que eu quero falar é: tire seu “filho” da gaveta e vamos mostrá-lo ao mundo.
ALÉM DA WEB
Em maio, o canal deu um pulo para fora das telas do computador e ganhou uma mostra no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF). Na ocasião, foram exibidas 53 produções nacionais, inéditas ou já disponíveis no site. A experiência foi bem sucedida, e a segunda edição do Festival O CUBO de Cinema já está confirmada para o mesmo mês do ano que vem.
Além disso, o projeto realiza, neste mês, o workshop Faça um Curta, em que os participantes, orientados por Fabiano Cafure, poderão saber mais sobre o processo criativo e técnico de um filme, da concepção à finalização. O resultado do curso de um mês será a concepção de um curta-metragem de até meia hora, no estilo se vira nos 30 mesmo: criado colaborativamente e sem muitos recursos, mas – se tudo der certo – com qualidade.
– Na verdade, é mais que um curso – corrige Cafure. – A pessoa vai fazer o curta em pouco tempo, com pouca grana e desenvolvendo múltiplas funções. O produto final será lançado no Cubo.
Acesse o site de origem: Projeto na web quer dar visibilidade a produções independentes de cineastas brasileiros