(Parecis, 01/09/2014) “Por lei, na sociedade contemporânea, nós, mulheres, temos direitos iguais aos dos homens. Mas, culturalmente, ainda somos criadas para perpetuar valores conservadores. Nem sempre a gente fala ou age de forma machista por querer, mas por reproduzir um padrão que aprendemos como certo. O machismo é naturalizado. Existe uma crença de que ‘biologicamente’ a mulher é mais sensível, nasce com o dom de ser ‘multitarefa’.
A consequência disso é desastrosa: as mulheres que lutam por liberdade sexual ou qualquer valor diferente dos impostos, se sobrecarregam ou sofrem preconceitos por não se enquadrarem naquilo que a sociedade espera”. Liana Sampaio Carvalho, 39 anos, de Itajaí (SC), jornalista, empresária e administradora da página do Facebook “Moça, Você é Feminista”. Por Heloísa Noronha.
“São muitos os pensamentos que ainda precisam ser mudados, começando pelo padrão duplo de sexualidade. É incrível que mulher que faz sexo ainda seja xingada, enquanto o homem que faz exatamente a mesma coisa é vangloriado. Acima de tudo, é preciso parar de querer vigiar e punir o corpo das mulheres. Se o corpo feminino parar de ser visto como algo suspeito, poderemos legalizar o aborto, por exemplo, fundamental para que tantas brasileiras deixem de morrer pelas mãos de clínicas clandestinas.
Também é preciso que a mulher pare de ser considerada propriedade do homem. Esse sentimento de posse faz com que, de todas as mulheres assassinadas no mundo, uma em cada três seja morta pelo parceiro, o que ainda insistimos em chamar de crime passional, enquanto o mais apropriado seria ‘feminicídio’. É preciso, em linhas gerais, que mulheres sejam vistas e tratadas como seres com total autonomia”. Lola Aronovich, 46 anos, professora de Literatura em Língua Inglesa da UFC (Universidade Federal do Ceará) e autora do blog feminista “Escreva Lola Escreva”.
“Acredito que entre todos os pensamentos que a sociedade ocidental precisa mudar o de que existe uma ‘mulher fácil’ figura entre os mais urgentes. Além desse tipo de ideia ser um estímulo à cultura do estupro, em algumas mulheres ela pode operar como uma castração psicológica que limita a vida sexual feminina”. Giulia Gramuglia, 20 anos, estudante de jornalismo e integrante da Frente Feminina Casperiana e do Grupo de Ação, composto apenas por mulheres, da Faculdade Casper Líbero, de São Paulo.
“Falta à sociedade olhar as mulheres como indivíduos livres, que podem e têm o direito de exercer sua vontade. É necessário enxergá-las como pessoas que não precisam do aval de um terceiro. Precisamos olhar a figura feminina com igualdade em relação à figura masculina, sendo permitido a ela todos os direitos que um homem pode ter. Libertá-la dos tabus, dos padrões e do moralismo”. Aline Santos, 21 anos, de Santo Antônio de Jesus (BA), estudante de Administração de Empresas e administradora da página do Facebook “Moço, Eu Sou Lésbica”.
“Acredito que a visão do corpo da mulher como propriedade pública é algo que deve ser mudado. O desrespeito nas ruas, nos transportes públicos e nos ambientes de trabalho retrata a desvalorização sofrida e a visão de que o corpo feminino pode ser abusado, machucado, subjugado. Lutamos por respeito”. Nathalia Bernardes do Amaral, 25 anos, representante do Coletivo de Mulheres da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
“As mulheres brasileiras, há décadas, passam por processos de transformação pessoal, profissional e mudaram o país. Contudo, segundo pesquisa do Data Popular, 89% dos homens consideram inaceitável que a mulher não mantenha a casa em ordem; apesar de quase todos os domicílios terem TV, apenas 55% possuem máquina de lavar; 56% da população conhecem um homem que já agrediu uma parceira e 54% conhecem uma mulher que já sofreu agressão do parceiro.
Em 2010, um estudo da Fundação Perseu Abramo mostrou que 94% das brasileiras acreditam que existe machismo no Brasil. E segundo uma pesquisa do DataSenado de 2013, 90% das brasileiras afirmam que as mulheres nem sempre são tratadas com respeito por aqui.
No Brasil, as mulheres derrubaram dogmas arraigados da sociedade e alcançaram, com garra e competência, maior espaço. Há, sim, o que comemorar, mas ainda falta muito a conquistar, em especial respeito e poder”. Jacira Vieira de Melo, militante feminista desde os anos 1970, especialista em Comunicação Social e Política na perspectiva de gênero e raça e diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão, de São Paulo (SP).
“A ideia da submissão feminina precisa ser mudada. A mulher ainda é vista como submissa às vontades dos homens, ainda é tratada com propriedade ou como objeto, ainda é colocada à disposição das vontades masculinas e ocupa uma posição de dependente. As mudanças estão acontecendo lenta e gradualmente. Falta muito para que possamos comemorar”. Renan Fernandes, 25 anos, de Jundiaí (SP), engenheiro civil e administrador da página do Facebook “Homens contra o Machismo”
“A sociedade precisa parar de ditar se a mulher deve ter filhos ou não, que roupas deve usar, quantos parceiros sexuais deve ter, qual profissão escolher, culpá-la por assédios sexuais e estupros, conferir a ela a obrigação exclusiva de cuidar da casa e dos filhos e tantas outras coisas baseadas no mito do que é ‘ser mulher de verdade’.
O que existe, no entanto, são formas idealizadas e preconceituosas de masculinidade e feminilidade, assim como papéis correspondentes a essa construção. Tudo o que é social e cultural pode mudar e, nesse caso, tem de mudar”. Monique Amaral, 23 anos, linguista, militante do Coletivo Feminista Comunha e da Frente Feminista de São Carlos (SP) e administradora da página do Facebook “Campanha pela Divisão dos Trabalhos Domésticos”.
Alexia Schumacher
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